Toda LOJA maçônica recebe um NOME e um NÚMERO. Este NOME é dado em homenagem a alguém ou então a determinada palavra que exorta os princípios que regem a MAÇONARIA. Mas em diversos casos os membros referem-se a uma LOJA nominando-a pelo nome de um dos membros e, esse membro na maioria das vezes é aquele que exerceu o veneralato por uma ou mais vezes e tem um predomínio sobre os demais membros, exercitando esse predomínio como forma dominadora, a esses irmãos nós os chamamos de “Dono da Loja”. O objetivo desse artigo é despertar em cada um dos obreiros a necessidade de não construir essa imagem, desenvolvendo uma criticidade própria a não construir em sua senda maçônica essa “pecha” desqualificada de “Dono da Loja”.

Karl Mannheim apresenta o excesso de poder como: “sempre que a concentração de poder se torna excessiva, transforma-se em convite à tirania nas situações críticas. O poder tem suas metamorfoses. Às vezes, apresenta-se desnudo, mas geralmente se disfarça em poder econômico ou administrativo, de propaganda ou de educação. Isto nos permite compreender que a vigilância democrática exige que, seja qual for a forma como se nos apresenta o poder devemos vigia-lo”. (Karl Mannheim – 1972)

A ideia acima nos remete a uma reflexão que prontamente demonstra as possibilidades do exercício do poder por algum membro da Loja maçônica. Não podemos aceitar essa ideia simplista que o poder é inato, é próprio de determinado indivíduo. Na Loja maçônica não podemos aceitar que algum membro seja identificado como “Dono da Loja”, somos livres e de bons costumes, aprendemos com a filosofia maçônica o sentido pleno de liberdade, de respeito, de igualdade, de fraternidade e, portanto estamos e somos embasados em princípios que por si só, destroem a imagem desse poder que avilta os princípios básicos da Maçonaria e que muitos chamam de “Dono da Loja”.

A Maçonaria desperta, mesmo que seja paradoxal, a vaidade em seus adeptos. Tantos são as oportunidades que podem aflorar a vaidade, como: graus, paramentos diferentes, posições administrativas e muitos outros atrativos, medalhas, diplomas e comendas. Talvez essas inúmeras possibilidades sejam verdadeiramente um alerta, um chamado, uma Luz, para que todos que pertençam ao quadro das Lojas, quando voltam ao mundo dito profano, possam refletir que nada tem tanta ou nenhuma importância. Será essa a mensagem subliminar que a Maçonaria quer nos mostrar? Será que através dessa gama de honrarias, devemos entender que tudo não passa de fugaz no sentido da vida? Talvez seja esse o grande segredo da Maçonaria; nada tem importância na vida, a não ser, aquilo que está além de nossa compreensão, o infinito e imensurável valor da fraternidade, do amor, da bondade e do amparo a quem quer que seja, a busca diuturna da verdade e a crença que todas essas honrarias valem menos que o estar feliz. Dentro dessa visão o “Dono da Loja” apesar de todas as honrarias, jamais será feliz, pois azeda-se em seu interior o espírito de bondade, pois vê em cada irmão, não um par e sim um subalterno, um ser inferior, um espírito tacanho que, somente tem a obrigação de executar e servir aos seus caprichos e mandos. A Maçonaria é perfeita ao ser tão paradoxal os seus ensinamentos.

Não existe comprometimento do “Dono da Loja” com a busca da verdade, com o espírito científico que deve sempre nortear nossas ações como livres pensadores. Em seu artigo Hercule Spoladore afirma: “O pior ex-venerável é aquele tipo de irmão matreiro, político, de fala mansa, que sorri para todo mundo, abraça a todos três vezes e que se derrete em falsos elogios aos Irmãos do quadro e procede assim porque é uma das suas estratégias para permanecer no poder eternamente. Ele se vale de bonecos ou títeres para cobrir uma gestão que por imposições das constituições das potências ele não pode se reeleger mais de uma ou duas vezes. Em seguida ele volta gloriosamente na próxima. Mas durante a gestão de seu preposto, quem dirigirá a loja de fato, será ele. Não de direito, mas de fato. Ele tomará todas as decisões e o venerável de plantão cumprirá rigorosamente o que o seu chefe determinar. Geralmente ele tem o seu grupo, formado por comparsas que são coniventes que antecipadamente já decidiu quem será o venerável para os próximos seis ou oito anos, mas sempre ele voltando após as gestões de seus substitutos arranjados ou então apenas preferirá ser o chefe por trás, nos bastidores, mandando em tudo e por muito tempo.

O fator preponderante para que os maçons autoritários e absolutistas assumam seus comandos – ad eternum – ad vitam – é a falta de comprometimento com a ordem e com os irmãos. Uma grande parcela de homens adentra a Maçonaria com desejos ou intuitos outros, desvirtuados pela visão da sociedade hodierna de querer levar vantagem em tudo e, perscrutam nas Lojas essas possibilidades e fazem delas apenas uma “muleta para o sucesso”, e com isso, deixa de fazer de suas participações em suas Lojas uma forma de melhorar, ao contrario, não se comprometem com absolutamente nada, deixando o caminho livre para que o ” Dono da Loja” perpetue seu “reinado”. Existe a facilitação a esses propósitos, é permitida a reeleição, e também após um período de veneralato ocupado por outro, o “dono da Loja” pode voltar a concorrer ao cargo. O mesmo raciocínio se dá em outras esferas da Maçonaria, a saber: Grão Mestrado ou Supremos Conselhos. Todo aquele que tem ansiedade pelo poder, assume veladamente o propósito de governar ditatorialmente, o faz com conivência de outros que são pares. Para que não sejamos contumazes “ditador” se for eleito para o Veneralato, Grão Mestrado ou participar como presidente das câmaras dos altos graus, o faça uma única vez e dedique todas as suas forças na administração e condução do seu período e, quando substituído, dê o seu apoio integral ao novos e jamais julgue-os comparativamente ao seu período, principalmente tecendo essas comparações em grupos ou aos irmãos individualmente.

No artigo citado acima cuja escrita se deve ao irmão Hercule Spoladore ele mais adiante descreve a personalidade do “Dono de Loja”: “No fundo a sede de poder, nada mais que uma autoafirmação, insegurança, incapacidade de ser transparente com seus semelhantes e com o meio em que vive vaidoso mentiroso geralmente tendo uma visão unilateral dos processos de interação entres os Irmãos, tornando sua personalidade a de um verdadeiro psicopata social. Não sabe mais discernir os seus limites. Não tem sentimentos. Chega a ser uma doença um desvio de personalidade, e de comportamento”. Afirmações cristalinas e verdadeiras, podem a principio parecer chocantes, duras demais, mas insofismável a veracidade das afirmações. Toda Loja, Potência, Supremo Conselho e suas câmaras são administradas por períodos pré-definidos. Essa administração recai sobre um membro que aparenta ou acredita-se que tenha algum espírito de liderança e administrativo. O espírito totalitário, absolutista e de caráter ditatorial (semelhante a Stalin, Hitler e outros) não combina com a doutrina e nem com a filosofia da Maçonaria.

Faz-se necessário buscar algumas situações que corroboram para o membro da Maçonaria se qualifique como “Dono de Loja”, a saber: “São perfeitamente identificáveis cinco situações em que tal ocorre, podendo haver outras:

(1) Quando um grupo de irmão adquire um prédio com seus recursos próprios para o funcionamento da Loja e confundem a propriedade do imóvel com a propriedade da Loja, vindo a administrá-la sem levar em consideração os irmãos que ingressaram posteriormente;

(2) Quando um irmão cede um seu imóvel para o funcionamento da Loja e, por conivência, conveniência ou omissão a maioria dos irmãos permite que o proprietário do imóvel administre a Loja .

(3) Quando um irmão com uma situação financeira superior aos demais passa a adquirir bens para a Loja ou emprestar dinheiro para os mais necessitados e, com a conivência da maioria, passa a Administrar a Loja por ele próprio ou por irmãos por ele indicados;

(4) Quando um grupo de irmãos mais antigos, por se constituírem em maioria ou mesmo por conivência da maioria, passa a administrar a Loja segundo os seus interesses; e

(5) Quando um determinado irmão, por liderança ou por um conhecimento superior – real ou imaginário – com o suporte da maioria, administra direta ou indiretamente a Loja.
(www.simbologiamaconica.dospaineis – acessado em 22/12/2019)

Conversando sobre o assunto com o irmão Izautônio da Silva Machado Junior – ARLS Vale do Jamari – Nº 38 – Ariquemes – GLOMAROM – RO, entusiasta e praticante do Rito de York, escritor maçônico, fui por ele alertado com o comentário: “… sempre lembrando que existe outro lado nessa história; maçons que sempre carregaram o piano nas costas em virtude da indolência dos demais irmãos. Sem alguns “Donos das Lojas” muitas já teriam abatido colunas”, Essa conversa com o irmão IZAUTONIO nos remete a mais uma importante constatação: o que chamamos “carregador de piano” nas Lojas maçônicas está longe de ser o “Dono da Loja”. Observamos que esses carregadores são dedicados a manutenção do funcionamento da Loja, seja no âmbito da conservação e aprontamento da sala de reunião e suas dependências, seja na aquisição de material e mesmo conservação da área física da Loja e na confecção dos ágapes. Os carregadores de piano são elementos fundamentais à manutenção e fortalecimentos das Lojas. Em todas as associações e sociedades, existem esses que sempre estão dispostos mais que outros a contribuir com suas presenças, com suas habilidades para que essa associação/sociedade seja exitosa em sua existência.

O “Dono da Loja” não tem a característica do “carregador de piano”. O autoritarismo lhe é próprio, muitas das vezes, usa do “carregador de piano” para suas conquistas e sucessos na Loja e na Maçonaria como um todo. Não podemos deixar de exaltar e aplaudir o “carregador de piano”, como disse o irmão IZAUTONIO: “sem eles estaríamos em situações difíceis”, são abnegados irmãos, dedicados e carregam uma virtude que poucos possuem – a humildade. Os “Donos das Lojas” são bem diferentes, são desnecessários e desagregadores.

Ao “Dono da Loja” podemos atribuir-lhe a “síndrome do pequeno poder”. Essa síndrome é própria dos extremamente vaidosos, que até conseguirem seu objetivo que é administrar um grupo, posam de “bom moço”, quando conquista o objetivo torna-se um déspota, um ditadorzinho, manipulador e dominador. Porém essa conquista se deu por permissão dos demais, em Loja maçônica isso é notório e não é incomum. Conquistar o topo e “governar” inescrupulosamente sendo pelos irmãos essa atitude aceitável, em muitos casos se deve a interpretação errada da tolerância, tolerar não é aceitar o domínio espúrio, tolerar é aceitar dentro de determinados princípios.

A Maçonaria solidifica a tolerância como uma das virtudes mais nobres praticadas, porém não se pode tolerar um membro que tenta através de atitudes desprezíveis o domínio do grupo. Temos a obrigação de aceitar os desafios de expurgar esses elementos que denigrem a Maçonaria, levando-a aos abalos e enfraquecimentos que são constatados nos últimos tempos. O que determina se um individuo será um administrador respeitoso e que rege seu trabalho pelo respeito às Leis e ao diálogo com autoridade é inerente ao caráter.

É comum a frase: “Queres conhecer uma pessoa, dê poder a ela”. Isso é consequência do caráter bizarro do indivíduo que usa desse poder para humilhar e menosprezar os outros, na Maçonaria esses acontecimentos não são diferentes, mesmo recebendo ensinamentos que deveriam mudar as atitudes daquele que é iniciado, na verdade esses indivíduos não conseguem receber, refletir e desenvolver para a sua vida os ensinamentos oriundos da doutrina e filosofia maçônica. Não adianta em nada participar de uma fraternidade se lhe escapa o entendimento mais simples que as alegorias e símbolos proporcionam. “O Dono da Loja” é um câncer para a Maçonaria, além de impedir o crescimento da Loja, Potência e Supremo Conselho, ele certamente conduzirá a Maçonaria à desordem e ao caos.

Bibliografia
– Mannheim, Karl – Liberdade, Poder e Planificação.
Editora Mestre Jou – 1º ed., São Paulo, 1972
– Spoladore, Hercule. Ex-venerável – Dono da Loja .
Site www.filhosdehiram.com (acessado em 02/01/2020)
– Vidal, Ricardo. Os dois coveiros.
Site www.bibliot3ca.com (acessado em 20/12/2019)
– Dono da Loja – www.simbologiamaconica.dospaineis.com
(acessado em 22/12/2019)

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