O título “Ser Maçom e Ser Leitor” não é uma mera provocação, mas um desafio aos Maçons brasileiros. Estamos em meados do primeiro mês do ano de 2013. Acabo de retornar de merecidos banhos de sol nas costas do Nordeste brasileiro, e me acomete o desejo de escrever algo sobre Maçonaria para os Maçons. É o primeiro artigo do ano, depois de um ano em que escrevi muito pouco. O ano de 2012, por muitas razões, foi atípico: primeiro por privar meus Irmãos e leitores habituais e depois por me privar da evolução intelectual que me proporciona a escrita. Sei que o leitor pode estranhar, mas este é um pedido de desculpas por minha ausência nas páginas desta revista.

Ser Maçom é um atributo especial do indivíduo que almeja evoluir intelectual e culturalmente. Ser Maçom é ser um indivíduo abnegado à causa e aos preceitos da Maçonaria. Ser Maçom é, sobretudo, ser sábio, Irmão dos Irmãos e amigo do conhecimento. Ser Maçom, em resumo, é ser capaz de construir amizades e de se relacionar fraternamente com todos os homens. Ser Leitor é ser um Maçom Especial. Não existe incompatibilidade em ser Maçom e ser Leitor.

Em verdade, escrevo estas primeiras linhas para dizer que me preocupa saber ou imaginar saber que parcela significativa de Maçons, homens bem-sucedidos em seus afazeres e labores fora da Maçonaria, não valoriza o prazer das “viagens” que a leitura pode proporcionar. Voltaire, já em seu tempo, dizia que “lê-se muito pouco”, e hoje, “entre os que desejam se instruir, a maioria lê muito mal” [FAGUET, 2009]. A conclusão é elucidativa: o maçom lê pouco e a crise da falta de leitura é gravíssima. A ignorância é a mãe de todos os vícios, diz um velho provérbio português.

Em tese, ninguém precisa morrer de paixão pelos livros, mas “quantos homens já iniciaram uma nova era em suas vidas depois de ler um livro”. E o digo por experiência própria. Eu, pessoalmente, passei a enxergar o mundo com outros olhos quando li o livro “A Lei do Triunfo” de Napoleon Hill, lá pelos idos anos de 1969. Um livro do tipo autoajuda que ainda hoje se encontra disponibilizado nas livrarias. Li o livro outras vezes e guardo um exemplar, com muito carinho, entre tantos livros e autores que passei a apreciar.

Ser Maçom e ser Leitor é um distintivo de orgulho para as Lojas. Com o Maçom e Leitor nascem bons trabalhos em Loja, o que engrandece a todos. Com ele brota o incentivo ao hábito da leitura, a divulgação de títulos e a propagação de livros entre Irmãos, o que contribui para despertar a consciência maçônica para a escrita de artigos e de livros. Artigos e livros maçônicos são alimentos para a Alma Maçônica. E aqui poderia referenciar outros tipos de leitura, a dos e-books (por exemplo), de Jornais, Revistas e de outras publicações na tecnologia “OCR” disponibilizados nos Ipads, Smartfones, Tablets e em outros instrumentos de acesso aos livros digitalizados, mas este será um tema para nossos encontros futuros.

Monteiro Lobato apreciava dizer e dizia com maestria que “um país se faz como homens e livros”. Eu ainda ponho muita fé nessa frase, embora em certos momentos possa ser levado a acreditar que na Maçonaria e entre Maçons a leitura seja um objetivo muito distante de ser alcançado. O tema que exploro neste artigo não é novo, em artigos escritos no passado já explorei esse mesmo tema para firmar entendimento e tentar achar a razão pela qual os maçons não gostam de ler. Assim, batendo numa mesma tecla, me ombreei a outros escritores que antes seguiram na mesma vertente. Destaco, pelo pioneirismo nessa vertente, os nomes dos Irmãos Kurt Prober, João Alves da Silva, Breno Trautwein, Osvaldo Ortega, Raimundo Rodrigues e, na atualidade, Antonio do Carmo Ferreira. Este, um arrojado empreendedor cultural e ardente defensor da educação nacional.

Irmãos! Leiam. Leiam e Leiam. Leiam o que lhe agradar ler. A importância da leitura não reside na obra que se lê, mas na leitura em si mesma. O importante é valorizá-la, e pouco importa que a cultura dela advinda seja de livros de autoajuda, best-sellers, esotéricos, místicos, literatura, biografia, história ou filosofia. Não importa o que se leia, até mesmo porque não propomos seja o Irmão um intelectual-elitista, mas que seja um leitor. Na verdade, não importa se o Irmão é intelectual ou não, se o livro é de qualidade ou não, o que se deseja é que o Irmão seja um leitor. Que a Ordem Maçônica seja uma associação de leitores.

O livro é o caminho. A arte de ler, a compreensão e a incorporação da leitura, e a constituição da cultura intelectual maçônica passam necessariamente, pela leitura de livros, revistas e artigos maçônicos, sem prejuízo da leitura de outras obras. Não podemos nos distanciar desse norte. A Maçonaria é um sistema e uma escola de moral e ética, filosofia social e espiritual mesclada de alegorias e símbolos, que conduz ao aperfeiçoamento dos costumes e à prática dos mais elevados deveres do homem: retidão e perfeição. Conhecer-se a si próprio, amar e instruir seus semelhantes é regra de ouro na Maçonaria.

Antes de concluir, almejo deixar evidenciado concordância com o entendimento esposado por Sérgio Machado, editor e ex-presidente do Sindicato Nacional dos Escritores de Livros, quando disse que “o hábito de leitura de um povo”, e do Maçom em particular, ainda que existam outros fundamentos, “se apoia em três pilares: educação, renda e tempo disponível”. Contudo, sem adentrar nos pilares indicados, não podemos relevar que as Lojas, por seus Presidentes e Oficiais, precisam provocar o despertar dos seus afiliados à prática da leitura dentro e fora dos Templos, exigindo bons trabalhos de graus e impondo a política obrigatória dos “Quartos-de-Hora” e do “Tempo de Estudo” em cada sessão maçônica, cumprindo e fazendo cumprir fielmente o ritual estabelecido para o Rito e Grau.

E para finalizar, estou a recomendar a aquisição e leitura do livro “A Mitologia das Sociedades Secretas” de autoria de J. M. Roberts. Livro de um historiador graduado com “G” maiúsculo. Um show.

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