Há vários estudos interpretando o Salmo 133, quase sempre com viés teológico. A presente peça de arquitetura destina-se à instrução do Aprendiz, expõe os conceitos essenciais para sua compreensão e ao não enveredar no campo da religião, deixa a interpretação final a cargo de cada leitor.

Na opinião expressa no livro A Maçonaria e a Herança Hebraica do profícuo escritor maçônico, que nos deixou em 2004, José Castellani, a maçonaria que praticamos é herdeira dos ritos, das práticas e tradições hebraicas, a começar pelo Templo de Jerusalém, ou de Salomão, que é o arquétipo dos Templos Maçônicos [1].

O R∴E∴A∴A∴ recomenda os versículos 1-5 do capítulo 1 da epístola de João na leitura inicial de Aprendiz. No Brasil, a partir de 1927, passou-se a adotar o Salmo 133. Sem entrar no mérito da escolha, é nosso intento dar subsídios teóricos ao entendimento das mensagens condensadas nesse texto bíblico.
A inspiração e motivação de David para escrever o Salmo 133, provavelmente floresceu, da observação dos israelitas de diversas tribos subindo a Sião (ou Jerusalém) em clima festivo e fraterno para a festa anual do Tabernáculo, depositário da Arca da Aliança. Ecos desse clima fraternal chegaram ao nosso tempo nas romarias para os Santuários de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, de Guadalupe, no México, Aparecida do Norte, no Brasil, e Meca, na Arábia Saudita, entre outras. Infere-se que, na Jerusalém da época, o Salmo 133 seria cantado ao som de um saltério.

Salienta-se que na Bíblia Sagrada, traduzida pelos monges beneditinos de Maredsous, Bélgica, este Salmo é o 132, porque, inexplicavelmente, fundiram os Salmos 9 e 10 no 9, enquanto dividiram o Salmo 147 no 146 e 147, fechando o livro com os mesmos 150 salmos, sem mudança de conteúdo. O mesmo aconteceu com as bíblias católicas originadas da Vulgata Latina, como a traduzida pelo padre Matos Soares (1979) e a traduzida pelo padre Antonio Pereira de Figueiredo. No entanto, a fusão e divisão desses salmos não é apanágio católico, porque na Edição Pastoral aprovada pela CNBB, 1990, este é o Salmo 133.

Para efeito comparativo, observem-se a seguir os três versículos do Salmo 133, em cinco traduções da Bíblia: a do missionário João Ferreira de Almeida, não revisada e não atualizada [2]; a Bíblia traduzida para o inglês, em 1611, por determinação de nosso irmão Rei James I, conhecida como King James Bible ou BKJ [3]; na terceira linha, uma tradução livre da BKJ; na quarta, a Bíblia Hebraica; e, na última linha, a Bíblia Sagrada da Sociedade Bíblica Internacional [4].

A título de atualização linguística, talvez maldosa, mas inábil e inconsequente, a Bíblia Sagrada vem sofrendo mudanças nas últimas versões, razão deste alerta para a busca de textos preservados. Estes exprimem a mesma mensagem em línguas diferentes, porém, a última opção (em negrito) é mais palatável ao leitor, a começar pelo subtítulo, que denota a finalidade deste cântico.

{Salmo 133 Subtítulos}
A excelência do amor fraternal. Cântico dos degraus, de David [2].
The benefite of the communion of Saints. A song of degrees of David [3].
O benefício da comunhão dos santos. Uma canção de graus de David.(Trad. BKJ, 3)
Cântico de ascensão de David[4]
Cântico de Peregrinação. Davídico.[5
]

{Salmo 133:1}
Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! [2]
Behold, how good and how pleasant [it is] for brethren to dwell together in unity! [3]
Veja como é bom e quão agradável é: os irmãos habitarem juntos em unidade(Trad. BKJ, 3)
Como é bom e agradável viverem irmãos juntos em harmonia [4]
Como é bom e agradável quando os irmãos convivem em união! [5]


{Salmo 133:2}
É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, a barba de Aarão, e que desce à orla das suas vestes; [2]
[It is] like the precious ointment upon the head, that ran down upon the beard, [even] Aaron’s beard: that went down to the skirts of his garments; [3]
(É) como o precioso unguento sobre a cabeça, que escorreu na barba, (até) a barba de Aarão; que desceu sobre as saias das suas vestes.(Trad. BKJ)
É como o óleo precioso que unge a cabeça e Aarão, do qual escorrem gotas para sua barba e daí para a orla das suas vestes [4]
É como óleo precioso derramado sobre a cabeça, que desce pela barba de Arão, até a gola de suas vestes. [5]


{Salmo 133:3}
Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre [2].
As the dew of Hermon, [and as the dew] that descended upon the mountains of Zion: for there the Lord commanded the blessing, [even] life for evermore [3].
Como o orvalho de Hermon, (e como o orvalho) que desceu sobre as montanhas de Sião, pois ali o Senhor ordenou a bênção: uma vida para sempre.
É como o orvalho do Hermom quando desce sobre os montes de Sião. Ali o Senhor concede a bênção da vida para sempre. [5]

Entendendo o texto do Salmo 133
A palavra “salmos” vem do hebraico psalmus e refere-se a cânticos dos israelitas, escrito ao longo de várias gerações (nove séculos), registrando as suas tradições, vitórias, derrotas ou seus temores, incluindo-se os de natureza religiosa. Mostram às alegrias e os ódios, as virtudes e os vícios do povo “escolhido”. Em particular, o Salmo 133 (lido pelo Orador na abertura da Loja Maçônica, grau 1, Aprendiz) é uma expressiva declaração ao amor fraternal.

Quanto aos autores dos salmos, Moisés escreveu o Salmo 90. Os títulos identificam David, que era compositor e músico, como autor de 73 salmos, incluindo-se o 133. Salomão acrescentou os Salmos 72 e 127. Sacerdotes de Jerusalém (Asafe, Etã e os descendentes de Corá) escreveram 25 salmos.

Lamentavelmente, os restantes um terço, ainda não tiveram os seus autores identificados.
Os salmos são poemas musicais, uma coletânea de diversos autores ao longo de séculos, os quais usam, em especial, a retórica do paralelismo com reforço das ideias sucessivamente nos versículos que se sucedem.

O subtítulo “Cântico de Peregrinação. Davídico” refere-se à série de 15 salmos do 120 ao 134, que seriam cantados pelos peregrinos religiosos em subida a Jerusalém, durante as três festas religiosas anuais. Outra teoria defende que seriam cantados sobre os quinze degraus que ligavam o Pátio das Mulheres ao Pátio dos Israelitas, razão do subtítulo “Cântico dos degraus, de David”. [6]

Rei David
David era filho de Jessé, da tribo de Judá, neto do rico judeu Boaz com a moabita Rute. Foi criado na profissão de pastor de ovelhas, o que lhe permitiu adquirir habilidades úteis no curso da sua vida, como o manejo da funda, uma das mais antigas armas inventadas pelo homem para defesa e caça.

Personagem conhecido, em especial, face à história de ter matado o gigante filisteu Golias, atingindo-o na cabeça com uma pedra lançada de sua funda, passou a integrar a corte do Rei Saul. Não tardou a ficar mais famoso do que o rei, que, enciumado, passou a persegui-lo, chegando a tentar matá-lo. Fugitivo, refugiou-se entre os filisteus, onde recebeu treino militar. O príncipe Jônatas, filho do Rei Saul, era amigo de David e o aceitava como futuro rei, o que facilitou o seu retorno após a morte de Saul.
Considerado o autor de metade dos salmos, incluindo-se o 133, David era excelente músico e compositor.

O rei David formou um harém de esposas e concubinas, que lhe deram muitos filhos. Porém, movido a pulsões, para tomar a esposa de um súbdito, Bate-Seba, a futura mãe do Rei Salomão, esqueceu-se das virtudes, fez-se amoral, tramou o assassinato do marido Urias, que lhe era fiel, depois se amortizou em um cômodo pedindo perdão ao divino, seguido de singela punição. O seu reinado foi bem-sucedido, o povo de Israel viveu um período de conquistas e prosperidade, ao contrário da sua família sempre envolvida em rivalidades, intrigas, tragédias e assassinatos, como o episódio em que o seu filho Absalão matou o irmão Amom, que, por sua vez, havia estuprado a meia-irmã Tamar. Na sucessão real, eivada de conluio entre Bate-Seba e o profeta Naum, preterido por David em favor de Salomão, o primogênito vivo Adonias acabou morto.

Óleo precioso – precioso unguento – incenso
{30:22} Disse mais o Senhor a Moisés: {30:23} Também toma das principais especiarias, da mais pura mirra quinhentos siclos, de canela aromática a metade, a saber, duzentos e cinquenta siclos, de cálamo aromático duzentos e cinquenta siclos,
{30:24} de cássia quinhentos siclos, segundo o siclo do santuário, e de azeite de oliveiras um him.
{30:25} Disto farás um óleo sagrado para as unções, um perfume composto segundo a arte do perfumista; este será o óleo sagrado para as unções. [2] (Êxodus 30: 22-25).


Em medidas atuais, seriam: 6 quilos de Mirra + 3 quilos de Canela aromática + 3 quilos de Cálamo aromático + 6 quilos de Cássia + 6 litros de Azeite de Oliva.

A curiosidade pede-nos saber, além do desejado perfume, que propriedades teriam essa composição sagrada? Atribui-se à Mirra ação antimicrobiana, adstringente, anti-inflamatória, antisséptica, aromática, cicatrizante, desodorante, desinfectante, anestésica e, até, rejuvenescedora. Pode ser usada no tratamento da gengivite. A Canela é conhecida como especiaria alimentar e chá. O seu nome virou adjetivo, expressivo do seu odor característico. É obtida a partir da casca de árvores do gênero Cinnamomum (família Lauraceae). O Cálamo aromático ou junco aromático tem sabor amargo e exala um aroma agradável, lembrando o da tangerina. A Cássia, também chamada de sene, tem odor suave característico e possui atividades anti-inflamatória e anticonstipante intestinal. Era usada como laxativo na era medieval. Há confusões e diferenças entre Cássia e Acácia. O gênero Cassia inclui 30 espécies, pertence à subtribo Cassinae, subfamília Caesalpinioideae. O gênero Acacia compõe-se de 102 espécies agrupadas na subfamília mimosoideae. A Acacia Paniculata é conhecida por unha-de-gato, formando moitas de ferinos espinhos, quase intransponíveis aos transeuntes [7][8].

Arão ou Aarão
Arão era o irmão mais velho de Moisés, bisneto de Levi, portanto, era da “casa de Levi”, de onde saíam os sacerdotes. Era o porta-voz de Moisés junto ao Faraó. De acordo com as escrituras, Arão ajudou Moisés na jornada dos hebreus pelo deserto em fuga do cativeiro egípcio. É considerado o fundador do sacerdócio hebraico, tornando-se posteriormente o patriarca da classe sacerdotal. O seu nome, Hâr-ôn, do hebraico, significa montanhês, razão de se estender o seu significado para iluminado, elevado ou sublime.

Hermon
Na cordilheira do Antilíbano, norte de Israel, na divisa com o Líbano e a Síria, encontra-se o Monte Hermon, célebre por fornecer madeira para a construção de navios, ainda hoje circundado por cedros. Tem 2.814 metros de altura, e o seu cume está sempre envolto em neve. É a mais famosa montanha da região, cujo degelo é a principal fonte de alimentação do rio Jordão, que tem quatro das suas nascentes na base desse monte. Devido a sua altura, as correntes de ar distribuem orvalho para toda a região, chegando a Sião, a cerca de 50 quilômetros, o que torna a vida possível nessas terras ardentes.

Três livros do Novo Testamento descrevem a transfiguração de Jesus, acompanhado de Pedro, Tiago e João, nas encostas do Monte Hermon (Mateus 17:1-8; Marcos 9:2-8; Lucas 9:28-36). Provavelmente os detalhes, que são discordantes, foram criados por esses autores, que não estavam presentes no local do ocorrido, para reforçar a mensagem teológica, mas não há que duvidar, algo muito especial lá ocorreu.
Outra questão de interesse é que esse local se situa no paralelo 33, norte. O paralelo 33 seria uma coincidência com outros significantes trinta e três…?

Monte Sião
O Monte Sião era uma fortaleza Jebusita, conquistada pelos hebreus sob o comando do rei David. A Bíblia Sagrada descreve este momento (II Samuel, 5:6-7):

{5:6} Depois partiu o rei com os seus homens para Jerusalém, contra os jebuseus, que habitavam naquela terra, os quais disseram a David: Não entrarás aqui; os cegos e os coxos te repelirão; querendo dizer: David de maneira alguma entrará aqui.
{5:7} Todavia David tomou a fortaleza de Sião; esta é (se tornou) a cidade de David.


O termo Sion ou Sião pode ser derivado da raiz hebraica “ṣiyyôn” (castelo), do árabe “ṣiyya” (terra seca), “ṣuhhay” (o cume da montanha) ou “šanā” (proteger ou cidadela).

A palavra Sião aparece na Bíblia 160 vezes. O significado simbólico é empregado também no livro de Hebreus do Novo Testamento com o sentido de peregrinação dos redimidos, que chegam “ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial” (Hebreus 12:22,23).

O Monte Sião, circundado pelos vales de Cedron e Tyropocon, tem cerca de 800 metros de altitude. David tomou-o dos Jebuseus e mudou-se de Hebron para lá, levando a Arca da Aliança, razão de o local ser chamado de Cidade de David.

O movimento político e religioso visando ao restabelecimento do estado judaico na região, tornado realidade em 1948 com a proclamação do Estado de Israel, denominou-se sionismo, mostrando a elevada apreciação do termo entre os judeus.

Conclusão
Em resumo, há vários estudos sobre este salmo, disponíveis em peças arquitetônicas e textos profanos, florejando interpretações que vão da mais pura religiosidade à simbologia maçônica, passando pelo imaginário. O entendimento dos personagens, cenários e termos usados na construção desta grandiosa poesia musical reforça a força filosófica, religiosa e simbólica, expressa nos três versos do tão pequeno, quanto magnífico, Salmo 133.

O primeiro versículo diz: “Como é bom e agradável quando os irmãos convivem em união!”. Propositadamente, deixei para o agora, para o respeitabilíssimo irmão refletir sobre o convívio em união, que é mensagem basilar do Aprendiz e o “landmark” perene da vida familiar.

Postas à luz as rugosidades desta pedra bruta, incito-os à releitura do Salmo 133 e ao desafio de construir uma análise vigorosa, que possa contribuir para o engrandecimento pessoal, interfaceada à união fraternal, esse desígnio do eterno aprendiz, posto o que, fraternalmente, materializa-se o consequente fortalecimento do tecido social, base indistinta da civilização humana.

REFERÊNCIAS:
[1] Castellani José. A Maçonaria e sua Herança Hebraica. 1ª Ed., Maringá, SP: Ed. A Trolha, 1993;
[2] A Bíblia Sagrada contendo o velho e o novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica
Brasileira, 1949. “Não revisada e não atualizada” por escribas modernos;
[3] The Holy Bible (King James Bible). Imprinted at London by Robert Barker. Printer to the King, 1611. Cópia original em pdf da primeira edição inglesa de 1611;
[4] Bíblia Hebraica. À luz do Talmud e das fontes Judaicas. Tradução
David Gorodovits & Jairo Fridlin. 1a. ed., São Paulo: Ed. Sêfer, 2006;
[5] Bíblia Sagrada. Sociedade Bíblica Internacional. Tradução da edição 1993 pela Comissão da NVI. Printed in USA, 2000;
[6] Walton J, Mattheus VHH; Chavalas MW. Comentário Bíblico. Tradução de The IVP Bible Background Commentary: Old Testament
por Noemi VA Silva. Belo Horizonte: Ed. Atos, 2003;
[7] Souza JSI, Peixoto AM, Toledo FF. Enciclopédia Agrícola Brasileira. São Paulo: Ed. USP, 1995. Pág. 30;
[8] Lewis G, Schrire B, Mackinder B, Lock M. Legumes of the world.
Royal Botanic Gardens. Kew, UK, 2005.

Autores: Ir.: José Carlos Serufo (foto)
ARLS Paz e Amor Nº 16
Ir.: Josemar Otaviano de Alvarenga
ARLS Estrela do Barreiro Nº 217
Or.: de Belo Horizonte • GOMG – MG

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