Desde a mais remota antiguidade, as Árvores foram relacionadas aos deuses e com as forças da natureza. Cada nação teve sua Árvore sagrada com características peculiares e atributos baseados em propriedades naturais ou propriedades ocultas. Assim, uma das primeiras coisas a chamar a atenção do gênero humano foi o símbolo da Árvore. Neste contexto tem-se a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e a Árvore da Vida, encontradas nos livros religiosos, como a Arasa Maram para os Hinduístas, a Árvore Bodhi para os Budistas, Árvore Sung-Ming-Shu dos Chineses, Yggdrasil para os Escandinavos e a Axis Mundi que atravessou as culturas humanas.

HISTÓRIA
A história da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal tem seu início no jardim de Deus, em que o homem é colocado. A paisagem da história não são as árvores destinadas à alimentação do homem, pois Deus o colocou no Paraíso, para cultivar e viver. O Paraíso não é o local da indolência e inércia, pois nele o homem vive em atividade, mas não é ativo para si. É ativo para Deus, que lhe prescreve a atividade e sua
atividade não é o trabalho, pois é cuidado pelo Altíssimo e onde é Seu servo. Neste jardim sagrado além das árvores destinadas à manutenção do homem, contém duas árvores, que não servem para saciar nem a fome nem a sede, pois que não são destinadas ao homem. São as árvores reservadas por Deus: a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e a Árvore da Vida, conforme se lê em Gen 2:8-9:

“8- Então plantou o Senhor Deus um jardim, da banda do oriente, no Éden; e pôs ali o homem que tinha formado.

9- E o Senhor Deus fez brotar da terra toda qualidade de árvores agradáveis à vista e boas para comida, bem como a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal.”

Neste jardim o Altíssimo proíbe, sobre pena de morte imediata, tomar dos frutos da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, conforme: A história continua, com a atmosfera, puramente animal da vida do homem no jardim do Éden. O homem estava nu, mas não se envergonhava por ignorar a sua nudez.A falta de vergonha é importante, pois na passagem do estado de não possuir vergonha para o estado de vergonha, expressar-se-á o conhecimento de si próprio. A falta de vergonha exprime que o homem seguia seus instintos sexuais com a mesma naturalidade com que fazem os animais. É apenas um ser vivo na paisagem de sua hominização e como todo ser vivo não se envergonha de sua vitalidade.

Aparece então a figura da serpente que aciona a superação e revela os efeitos do fruto proibido. A serpente é apresentada como o mais sábio e astuto dos animais do campo, sabe também mais do que o homem, apenas ser vivo. Ela desinstala o homem da imanência numa vida meramente inconsciente, descortinando as possibilidades do fruto proibido, conforme Gên. 3:1-5, onde se lê:

“1- Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?
2- Respondeu a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim podemos comer,
3- mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais.
4- Disse a serpente à mulher: Certamente
não morrereis.
5- Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal.”
A serpente prepara a queda do homem, conforme o registra o Livro Apócrifo de Melquisedeque, no Pseudo Epígrafo de Gênesis – A Criação do Universo – 3:
“Finalmente, em suas considerações, Satã e seus liderados compreenderam que lhes restava uma oportunidade: no meio do jardim do Éden, nas alturas de Sião, elevava-se, junto ao rio da vida, a árvore da ciência do bem e do mal. Bastaria um gesto humano, nada mais, e teriam sob seu poder, para sempre, o domínio cobiçado. Mas como seduzi-lo?”
Ao comer da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, figura 01, o homem continua vivo e assim: abriram-se lhes os olhos. O Eterno reconhece ao exclamar em Gên. 3:22, onde se lê:
“22- Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem se tem tornado como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Ora, não suceda que estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente.”
O Alcorão na 2- Süratu – Al-Baqarah 36 registra o fato:
“36 – E Satã fê-los incorrer em erro por causa dela (a árvore), e fê-los sair de onde estavam. E dissemos: “Descei sedo inimigos uns dos outros. E tereis na terra, residência e gozo, até certo tempo.”
Interessante notar a passagem do Livro Apócrifo de Adão e Eva, Livro I, Capítulo 3:7, onde se lê:
“Mas Deus fizera antes disso esta aliança com nosso pai Adão, nos mesmos termos, quando ele saiu do jardim e se encontrava junto à árvore da qual Eva tomara do fruto e lho dera a comer.”

Percebe-se a similitude com a passagem registrada no Evangelho Apócrifo de Enoque, Capítulo 30:3-5, onde se lê:
“3 – Sua fragrância era agradável e poderosa e sua aparência era tanto agradável quanto elegante. A árvore do conhecimento também estava ali, do qual se alguém comesse, tornava-se dotado de grande sabedoria.
4 – Ela era semelhante às espécies da tamareira, dando frutos semelhantes à uva extremamente fina, e sua fragrância estendia-se a considerável distância. Eu exclamei: Que bela é esta árvore e quão deleitável é sua aparência!
5 – Então o santo Rafael, um anjo que estava comigo, respondeu e disse: Esta é a árvore do conhecimento, da qual vosso antigo pai e vossa mãe comeram, os quais foram antes de ti e que obtendo conhecimento, seus olhos sendo abertos, e descobrindo que estavam nus, foram expulsos do jardim.”
O significado dessa última passagem da história é a conclusão da criação do homem, onde diferencia dos animais, por haver comido da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Todavia, sua hominização se transformou em maldição em que paga por tornar-se como Deus vivendo a angústia da morte na decadência, que os animais não vivem por não terem espírito, e que Deus não vive por não ser mortal. Segundo o texto bíblico, três foram os efeitos após comer o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal: a abertura dos olhos, o saber do bem e do mal, e a consciência da nudez. A vergonha de sua nudez é assim a chave para a compreensão da hominização do homem pela transcendência do espírito, a perda da naturalidade animal, figura 02. O fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal revelou a criação do homem como homem; a presença da transcendência na imanência; o espírito. Comendo da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal adquire uma característica exclusiva de Deus, a capacidade de discernir entre o que é bem e o que é mal, através da razão.

A RAZÃO
Segundo Descartes a razão é igual em todos os homens, a adversidade das opiniões não vem, pois, de que uns são mais capazes de conhecer o verdadeiro do que os outros, mas de que alguns a conduzem pelo caminho do bem, ao passo que outros a conduzem pelo caminho do mal. O pensamento cartesiano, no qual a certeza do pensar e do existir emerge da dúvida metódica, estão sintetizados no Discurso do método de Descartes que nos lembra:

“Cogito ergo sum” ou “Penso, logo existo”
Essa célebre expressão constitui a primeira e indubitável certeza da razão dentro do pensamento cartesiano. Portanto, a razão enquanto resultado histórico de um processo natural, muda de qualidade com a marcha progressiva de sua formação. A capacidade de proceder metodicamente aos mesmos atos, que até então se procedia casual ou empiricamente é que dá uma qualidade nova à etapa mais avançada do desenvolvimento da razão. Se a princípio o método é espontâneo, irreflexivo, é porque se guia apenas pela lógica da concatenação dos estímulos e respostas úteis, e mais tarde se subjetiva e abstratiza tornando-se uma finalidade consciente da atividade ideativa.

Neste sentido, tem-se que razão seria a faculdade que tem o ser humano de avaliar, julgar, ponderar ideias universais e raciocinar. A razão não está situada como um arbítrio semidivino acima do ser humano para resolver suas disputas, mas funciona dentro e entre os seres humanos. Com a razão se estabelece relações lógicas, de conhecimento, de compreensão, de inteligência vivenciando-se o livre arbítrio.

LIVRE ARBÍTRIO
O teólogo, filósofo neoplatônico patrístico Orígenes de Alexandria define livre arbítrio como:
“É uma faculdade da razão pela qual se pode discernir o bem e o mal, e da vontade, pela qual se pode escolher um ou outro.”
Já para o teólogo e filósofo Agostinho de Hipona livre arbítrio seria:
“É uma faculdade da razão e da vontade pela qual se escolhe o bem, quando se tem a assistência da graça de Deus, e o mal, quando não se tem essa assistência.”
O abade francês São Bernardo de Clarival, da Ordem de Cister, lembra ainda a definição de livre arbítrio como sendo:
“É uma concessão feita à liberdade do querer, que não se pode perder, e um julgamento indeclinável da razão.”
O filósofo, teólogo e tradutor irlandês João Escoto Erígena, da corte de Carlos, o Calvo, afirmou que livre arbítrio seria:
“Os homens possuem livre arbítrio, pois a vontade de Deus é o livre arbítrio da investigação racional humana. A razão (verdade de Deus) prevalece sobre a religião (devoção a Deus) e não devem ser confundidos, pois a vontade de Deus está acima da doutrina Religiosa.”
Segundo a filosofia existencialista o livre arbítrio concentra-se sobre como o ser humano está no mundo. Sua principal preocupação são as condições que se cria para a existência do ser humano e não as condições criadas pela natureza.

INTRODUÇÃO MAÇÔNICA
Para o Maçom, que alcançou o livre arbítrio através da razão, há uma distinção essencial entre o Bem e o Mal, o que é justo e o que é injusto, onde a esta distinção se liga, para toda criatura inteligente e livre, a obrigação absoluta de conformar-se ao que é justo e perfeito, conforme registra o Bhagavad Gîtâ, Capítulo IX, Râja-Vdyâ – Râja-Guhya Yoga – A Sublime Ciência e o Soberano Segredo, em que Krishna diz o que representa para humanidade, em seu diálogo com Arjuna:
“Conhece-Me, adora-Me, fixa em Mim a tua mente e sem distração une a tua vontade à Minha, e nesta união encontrarás a mais perfeita felicidade da tua vida.”
O Maçom é livre e de bons costumes, livre porque é consciente de seu dever e obedece aos ditames da verdade e da justiça, e de bons costumes pois possui o poder de fazer ou deixar de fazer através do conhecimento do Bem e do Mal, figura 03. O Maçom é capaz de resistir aos erros e tentações, que o impelem para o mal e para a injustiça, mas age de acordo com a sagrada lei da justiça eterna.
Portanto, o Maçom não é governado por um fado irresistível ou destino inexorável, mas é livre para escolher entre o Bem e o Mal. Sabe que o Mal existe por toda parte, com atrações tentadoras, mas por toda parte está igualmente o Bem servindo de eixo a todas as existências sociais de amanhã. Reconhece que o Mal não é um princípio desconhecido nem tampouco uma coisa sem origem, sendo o lado fraco de nossa natureza, o passo escorregadio da vida sensitiva. Desta forma, o Maçom busca o caminho da justiça e do direito, do bem e do belo, jurando procurar sempre ser um elemento de paz, concórdia e harmonia, no seio da Maçonaria, procurando aumentar e aperfeiçoar seu conhecimento de acordo com os ditames da Ordem, repelindo toda e qualquer ação que prive o homem de seus direitos de cidadão, de sua dignidade e liberdade de consciência.

Nesta caminhada o Maçom toma em suas mãos o Malho e o Cinzel, que representam respectivamente a inteligência e a razão, e que tornam o homem capaz de discernir o Bem do Mal, o Justo do Injusto, figura 04, e assim medita: “Si Talia Jungere Possis Sit Tibi Scire Satis”

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• Bíblia Evangélica – Sociedade Bíblica do Brasil,
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• Torá, A Lei de Moisés, Editora Sêfer, 2ª Edição, 2001.
• Tosi, Renzo, “Dicionário de S

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