Giuseppe Garibaldi não nasceu na Itália, mas sim em Nice, na França, em 4 de julho de 1807, 31 anos após a Declaração da Independência Americana. Não haveria local mais apropriado, um porto marítimo na costa mediterrânea, que sob as bênçãos de Poseidon, serviu de berço para o homem que iria viajar pelo mundo levando a mensagem de liberdade para os povos. Seus pais, genoveses, optaram pela nacionalidade italiana para o filho em virtude da “jus sanguinis” (direito de sangue).

É mundialmente conhecido como “Herói de Dois Mundos” por ter participado de conflitos na Itália e na América do Sul. Dedicou sua vida à luta contra a tirania. Ainda menino, tornou-se marinheiro e conheceu a vida no mar. Aos 25 anos era capitão da marinha mercante. A proximidade com as ideias republicanas de Mazzini, Carbonário, que acenava com o projeto de unificação da Itália, fizeram com que o jovem marinheiro iniciasse um flerte com os movimentos revolucionários para a liberdade dos povos. Sua estreia não foi a melhor das experiências e lembranças, o fracasso da insurreição de Gênova fez com que sua cabeça fosse posta a prêmio, obrigando sua fuga da Europa.

A bordo do navio Nautonnier, Garibaldi aporta no final de 1835 no Rio de Janeiro. À sua frente está o Pão de Açúcar, a Pedra da Gávea e o Corcovado, que registra em seu diário “[…] quando apareceu em volta de mim esta natureza luxuriante de que a África e a Ásia só tinham dado uma fraca ideia, fiquei maravilhado com o espetáculo esplêndido que meus olhos contemplavam”. Acompanharemos seus passos em três momentos históricos – Garibaldi no Brasil, no Uruguai e na Itália.

O Império Brasileiro estava em ebulição, em especial a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, onde havia eclodido em poucos meses a Revolução Farroupilha.  Enquanto na sua terra natal, o movimento dos carbonários crescia, no Brasil estava chegando à maçonaria, com seus membros atuando e influenciando as lutas da humanidade por liberdade, como na Revolução Francesa e na independência de vários países latino-americanos, inclusive Estados Unidos e Brasil. Os maçons tremulavam a bandeira dos movimentos abolicionistas. Ouve-se que ao norte dos Estados Unidos, montaram uma rede de fuga de escravos negros para o Canadá. Eram vagidos que ecoaram também por todas as províncias brasileiras.

Garibaldi chegou pouco depois da fundação da primeira Loja Maçônica no Rio Grande do Sul, que ocorreu no dia 23 de novembro de 1831, em Porto Alegre, com o nome de Loja Philantropia e Liberdade, tendo como seu primeiro Venerável Mestre, Bento Gonçalves da Silva, líder farrapo e com quem iria guerrear e entrar para história como Comandante da Frota Naval Farrapa.

Garibaldi foi “convocado” para unir-se aos revolucionários gaúchos. Conhecedor dos segredos dos mares, foi o “Almirante Farrapo”. Foi dele a façanha de transportar lanchões por terra enganando os Imperiais. Como empreendimento semelhante ao que preparavam os farrapos, nos campos da costa rio-grandense, recorda a história antiga o que fez Antônio, depois da batalha de Actium. E em tempos mais próximos, no século XV, o que praticou o sultão Mohamed II, quando fez transportar suas naves de Coregia ao Bósforo, numa extensão de dez milhas, através dos vales de Delma-Bagdgê.

As fontes sobre a sua iniciação e percurso maçônico são algo contraditórias: segundo alguns, foi iniciado na Itália, filiando-se depois (1837) na loja irregular “Asilo (ou Refúgio) da Virtude”, do Rio de Janeiro; outros defendem que teria sido iniciado numa loja do Rio Grande do Sul, com o mesmo nome da loja do Rio de Janeiro (a loja “Asilo da Virtude”, do Rio Grande do Sul, é fundada em 1833 e regularizada em 1840); outros, ainda, consideram que foi iniciado (1844) em Montevidéu, na loja “Asilo de la Virtud”, loja irregular criada por norte-americanos exilados, sendo depois regularizado (18 de Agosto de 1844) na loja francesa “Les Amies de la Patrie” (fundada em 1827, regularizada pelo Grande Oriente de França em 1844 e depois integrada no Grande Oriente do Uruguai).

Mesmo em tempos de guerra, Eros, o Deus do Amor, lançou sua flecha, fazendo com que Garibaldi arrebatasse do pequeno povoado de Laguna, a jovem Ana Maria de Jesus Ribeiro. Mulher, guerreira, mãe e enfermeira, lutou sempre ao seu lado na América do Sul e na Europa e entrou para a história com o nome de Anita Garibaldi.

Pouco antes do fim da Guerra de Farrapos, foi dispensado por Bento Gonçalves de suas missões e mudou-se para o Uruguai, que em 1842, foi nomeado capitão da frota uruguaia na luta contra o ditador argentino Juan Manoel Rosas. No ano seguinte, exerceu papel fundamental na defesa de Montevidéu, impedindo que a cidade fosse tomada pelos argentinos.

A guerra era o seu destino. Sua vocação o transforma em “O Leão da Liberdade”.

Em 1848, Garibaldi voltou à Itália para combater os exércitos austríacos na Lombardia (norte da Itália) e dar início à luta pela unificação italiana. Fracassou na tentativa de expulsar os austríacos e foi forçado a refugiar-se primeiro na Suíça e depois em Nizza (hoje Nice, sua terra natal). Visando conquistar Roma ao papado, os liberais italianos marcharam contra aquela cidade e a tomaram. Garibaldi participou da campanha com um corpo de voluntários e foi eleito deputado na assembleia constituinte da República Romana.

Em Março de 1862, surge como Soberano Grande Comendador do REAA do Grande Oriente de Palermo, e depois, pela unificação dos três Orientes existentes em Itália (Nápoles, Turim e Palermo), é nomeado Grão-Mestre do Grande Oriente de Itália (na reunião de Florença, dos dias 21 a 24 de Maio de 1864). Em 1872 é nomeado Grão-Mestre Honorário “Ad Vitam” do Grande Oriente de Itália.

Contudo, os franceses e os napolitanos cercaram a cidade, visando a restabelecer a autoridade papal. A cidade capitulou em 1º de julho de 1849. Foi perseguido pelos exércitos franceses, espanhóis e napolitanos e na fuga, morre sua amada Anita.

Caronte, o barqueiro de Hades, responsável por levar as almas dos recém-mortos para o mundo dos mortos, acompanhou Garibaldi durante mais de setenta anos, carregou seus melhores amigos, seus filhos, porém a carga mais preciosa que o filho de Nix transportou, sem dúvida foi Anita. Sua pena é o exílio, em várias partes do mundo, a começar pela África, nos Estados Unidos e no Peru.

Sua missão de Paladino da Liberdade não está encerrada. Em 1854, voltou à Itália e participa da segunda Guerra de Independência contra os austríacos. A Itália do norte foi unificada. Seguiu para o sul, onde conquistou a Sicília e o reino de Nápoles.

Vencedor, Garibaldi retira-se para sua casinha com algumas bolsas de sementes na ilha de Caprera, no Mar Mediterrâneo. Porém nem mesmo a sua morte o desliga deste mundo. Em seus pedidos, deixou claro que gostaria de ser cremado, e que suas cinzas fossem misturadas a terra, simbolizando o nascimento de uma nova Itália.

Seu desejo, porém, foi ignorado, pois, julgou-se que um líder tão importante não poderia sumir, mesmo após sua morte, em 1882, aos 74 anos. Foi enterrado no próprio jardim e sua casa entrou no mapa de peregrinos. Mas acredita-se que alguns seguidores mais radicais, determinados a seguir sua vontade, tiraram o corpo do caixão e o cremaram.

Surgindo então, a Lenda da Lenda, que é contada pelos ilhéus, que nem mesmo Caronte e Nix juntos puderam apagar o “Herói de Dois Mundos” e “O Leão da Liberdade”.

Referências:

ARARIPE, Tristão de Alencar, Guerra Civil do Rio Grande do Sul, publicado originalmente na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, em 1880/81 e republicado pela editora Corag no ano 1986.
Blog do Léo Ribeiro – http://blogdoleoribeiro.blogspot.com.br/2015/09/a-vida-maconica-de-garibaldi.html, acesso em 05 de agosto de 2017.
COLLOR, Lindolfo. Garibaldi e a Guerra dos Farrapos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1977.
COLUSSI, Eliane Lucia. “Plantando Ramas de Acácia: A Maçonaria Gaúcha na segunda metade do século XIX”, UPF Editora, 2000.
DUMAS, Alexandre. Memórias de Garibaldi. Trad. Antonio Caruccio-Caporale. Porto Alegre, L&PM, 2006.
FAY, Cláudia M. (Org.); CONSTANTINO, Núncia S. (Org.). Garibaldi, História e Literatura. Porto Alegre: Edipucrs, 2011. 324p.
ROGOWSKI, João-Francisco. A MAÇONARIA E A REVOLUÇÃO FARROUPILHA. http://padilla-luiz.blogspot.com.br/2015/09/, acesso em 15 de agosto de 2017.
VARELA, Alfredo, HISTORIA DA GRANDE REVOLUÇÃO, em seis volumes, publicação do Instituto Histórico-Geográfico do Rio Grande do Sul sob patrocínio do Governo do Estado no ano de 1933.

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