Não é errado afirmar que a civilização egípcia existiu por milênios por conta, dentre outros fatores, do regime monárquico forte e centralizado dirigido pelo Faraó.

A sociedade egípcia se organizava em grupos herméticos onde a ascensão social praticamente não existia. A vida para as populações mais humildes era difícil e a mortalidade por doenças era alta. A geografia do Egito conferia um grau de dificuldade natural para o estabelecimento de uma população: o país era, basicamente, formado por terras arenosas cortadas ao meio por um rio. Vida no Egito significava uma harmonia entre natureza e o homem, caso contrário estabelecia-se o caos.

Para governar tal nação, aonde graus variáveis de insatisfação poderiam surgir a qualquer momento, o Faraó precisava de elementos que o legitimassem como governante e garantissem a manutenção de seu poder. Os egípcios encontrariam nos aspectos míticos e religiosos os elementos necessários para legitimar e reforçar o poder do Faraó.

Narra à mitologia egípcia que o deus Osíris havia governado o Egito por um longo período, sendo que muito tempo depois ele próprio, Osíris, estabeleceria um governo humano constituído por um monarca, seu legítimo descendente. Portanto o Faraó era também um deus, um ser sagrado.

O vínculo Osíris – Faraó era estabelecido em um rito que acontecia na cidade de Abidus. Tal vínculo era então reforçado anualmente, quando o faraó comparecia à mesma cidade durante o Festival de Osíris. Valendo-se de sua condição de divindade, o Faraó era o principal provedor da estabilidade bem como o principal elemento que afastaria o caos da sociedade. Ele representava uma harmonia entre Homem, Natureza e Cosmos. O rito era repetido anualmente, onde o vínculo se reforçava.

Mas mesmo sendo dotado de natureza divina, o Faraó ainda possuía sua natureza humana, estando dessa forma sujeito á morte, como qualquer outro habitante. A “solução” para esse problema foi encontrada através de outro rito, denominado Festival
Heb-Sed, celebrado após os trinta primeiros anos de seu reinado e a partir deste primeiro ritual, de três em três anos. Na prática muitas vezes não se esperavam os trinta anos para celebrar o Heb-Sed. O festival consistia na morte simbólica e pública do Faraó e seu posterior renascimento, com a regeneração de todas as suas forças físicas e espirituais. Seu renascimento asseguraria colheitas fartas e renovaria a fertilidade da terra. Mais uma vez a tão necessária harmonia homem-natureza era evocada e restabelecida.

Durante o Heb-Sed o faraó realizava uma corrida simbólica, demonstrando sua força e disposição renovadas. Ele lançava flechas na direção dos quatro pontos cardeais, representando que detinha o poder sobre todo o país e mesmo todo o Mundo.

Conclusões

A prosperidade e riqueza alcançadas pelos egípcios serviram como fatores de atração para outros povos, que de forma sistemática atacavam o Egito.
Assírios invadem o Egito por volta de 670 a.C.. Logo em seguida viriam os Persas (523 a.C.), Macedônicos (332 a.C.) e os Romanos (30 a.C.). O Egito nunca mais voltaria a ter o poderio de épocas passadas, sendo finalmente dominado pelos árabes, que radicalmente mudaram toda a cultura religiosa milenar.

Mas talvez o maior inimigo que o Egito possuiu foram os próprios egípcios, que passaram a lutar entre si, levando a uma desunião e enfraquecendo as instituições. Ganância, interesses, corrupção, excessos e excentricidades de alguns Faraós geraram caos e desordem, justamente a antítese do que eles deveriam promover, ou seja, harmonia.

Nem mesmo os divinos poderes do Faraó puderam manter a civilização egípcia.
A história sempre se repete. Os homens insistem em não aprendê-la.

Obras Consultadas
MOREIRA, B. (2014) O festival de Osíris e a legitimação da monarquia faraônica no Egito antigo durante o reino médio tardio (1939-1685 a.C.) Revista Poder & Cultura. Ano I. Vol. 2. Outubro/2014
GRAJETZKI, W. (2006) The Middle Kingdom of Ancient Egypt:
History, ArchaeologyAnd Society. London: Duckworth
LAVIER, M-C. (1989) Les Mystères d’Osiris à Abydos d’après les stèles du Moyen Empire et du Nouvel Empire. Hamburg: Helmut Buske Verlag.
RICHARDS, J.(2005) Society and Death in Ancient Egypt: Mortuary Landscapes of the Middle Kingdom. Cambridge: Cambridge University Press.
TRIGGER B.G. (1983). The Rise of Egyptian Civilisation Cambridge University Press [S.l.]

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