Não havia na língua egípcia uma palavra que significasse “religião”. Os egípcios viam apenas a necessidade de compreender que Deus, Universo e Homem formavam uma unidade manifestada pelo amor. Dessa forma, cada vez que plantavam, que colhiam, que pescavam, que pintavam uma gravura, que teciam, eles se aproximavam de Deus. Cada gesto era um ato de aproximação e como tal deveria ser elaborado, estudado e executado com AMOR.

Entendiam que a vida era todo um processo arquitetado por Deus, visando ampliar o nível de consciência do Homem. O processo era impossível de ser realizado em uma única passagem pela Terra. Por isso a necessidade de reencarnar e vivenciar outras experiências, que se acumulariam em uma matriz do próprio espírito formando uma espécie de banco de dados.

O plano físico, aonde o homem encarnado viveria, era dotado de características particulares que iriam proporcionar, ao longo da vida, as experiências necessárias á sua evolução. Ele seria constituído por extremos absolutamente diferentes e opostos, possuindo uma característica marcadamente bidual. Vivendo em situações biduais, o espírito aprenderia a comparar e decidir pela realidade que julgasse mais apropriada. Mas era claro que haveria sempre uma reação sobre a escolha tomada. Essa seria, em verdade, a essência do princípio que denominamos livre arbítrio.

O aprendizado seria obrigatoriamente uma experiência individual, uma vez que a individualidade do espírito é aceita, não existindo um tempo padronizado ou pré-fixado. O sofrimento faria a compreensão da felicidade. A angústia permitiria entender a paz. E cada um desses aprendizados teria seu próprio tempo.

Esperavam os sacerdotes que, ao final, após as inúmeras passagens o homem entenderia que a verdade está no centro, e não nas extremidades. O Amor conduziria à esta neutralidade. Outra lição esperada era a que todas as circunstâncias ou situações que seriam apresentadas ao espírito encarnado durante sua passagem eram perfeitas e, mais além, eram necessárias.

Passagem após passagem o espirito aprenderia o segredo da TOLERÂNCIA, alcançando com ela poderes cada vez mais sublimes. A tolerância traria o entendimento de que a ÚNICA coisa que NUNCA é bi dual é o AMOR. Mas isso demandaria tempo.

Extremamente ligados à astrologia, o processo de evolução do espirito exigiria que ele atravessasse pelas doze casas zodiacais, perfazendo um giro completo no sistema solar. Cada casa proporcionaria ao espírito as influencias particulares de cada constelação. Em cada uma das doze fases do ciclo, seria revelado um mistério sobre Deus. Assim, os sacerdotes construíram ao longo do Nilo 12 templos, verdadeiros chacras ou centros de distribuição de energia do Egito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao experimentar em muitas vidas experiências opostas, como guerra e paz, saúde e doença, depressão e felicidade, o espírito acumularia em sua memória astral todas as impressões e aprenderia a escolher qual das situações lhe traria a paz. Ele, espírito, realmente compreenderia o poder e o peso de suas decisões, de suas escolhas.

Finalmente, ao entender todos os mistérios, o espírito se transformaria em um espírito elevado, capacitando o homem a livrar-se de suas necessidades materiais e colocando-o na condição de imortalidade. Construir uma comunidade em paz e viver uma felicidade: era a intenção dos sacerdotes.

O grego e historiador Heródoto ao visitar o Egito em 500 a.C., impressionou-se com o que vivenciou, afirmando “de todas as nações da Terra, os egípcios são os mais felizes”.

Talvez no contexto milenar da cultura egípcia, esta “máxima“ se enquadre: “vencer minhas paixões, submeter minhas vontades e fazer novos progressos”.

Obras Consultadas:
– MOREIRA, B. (2014) O festival de Osíris e a legitimação da monarquia faraônica no Egito antigo durante o reino médio tardio (1939-1685 a.C.) Revista Poder & Cultura. Ano I. Vol. 2. Outubro/2014
– GRAJETZKI, W. (2006) The Middle Kingdom of Ancient Egypt: History, ArchaeologyAnd Society. London: Duckworth
– LAVIER, M-C. (1989) Les Mystères d’Osiris à Abydos d’après les stèles du Moyen Empire et du Nouvel Empire. Hamburg: Helmut Buske Verlag.
– RICHARDS, J.(2005) Society and Death in Ancient Egypt: Mortuary Landscapes of the Middle Kingdom. Cambridge: Cambridge University Press.
– TRIGGER B.G. (1983). The Rise of Egyptian Civilisation Cambridge University Press [S.l.]

Leave a Reply

Your email address will not be published.