Ven∴ M∴, IIr∴ 1º e 2º VVig∴, demais VVen∴ MM∴ e autoridades maçônicas que compõem a mesa diretora dos trabalhos, caros homenageados, queridos Irmãos, cunhadas, sobrinhos, sobrinhas e amigos…

Neste Teatro, talvez o cenário mais propício para se reverenciar a memória daqueles que sonharam com nossa Pátria livre, assistimos hoje mais uma singela homenagem aos vultos da nossa história que, contrapondo-se à submissão e à servidão, ousaram ansiar por liberdade por ser ela a condição sine qua non da dignidade humana.

Buscamos assim, com essa Cerimônia, recordar e refletir em torno do direito do homem à liberdade, apoiando-nos nos exemplos daqueles que perseguiram seus ideais de autonomia e libertação concentrando suas ações na Vila Rica do século XVIII, e cujos valores podem mensurados pelo rastro que nos deixaram de dignidade, honra e amor pelas terras de Minas Gerais.

Ainda há pouco, no Panteão dos Inconfidentes (espaço ao mesmo tempo solene e majestoso, inaugurado em 1942 com o próprio Museu), junto ao Mausoléu em que repousam os restos mortais de alguns daqueles que hoje homenageamos, constatamos a existência de uma lápide funerária vazia. Ela é simbolicamente dedicada à memória daqueles cujos corpos nunca puderam ser encontrados, a cujo vazio, todavia, essa modesta homenagem procura preencher, como se fosse uma oração em seu favor…

Em complementação a tudo o que já foi dito em torno de Tiradentes e os Inconfidentes, é interessante destacar algumas conclusões tiradas por diversos pesquisadores que já se debruçaram sobre o imenso volume de papéis que constituem os Autos da Devassa. Naqueles documentos, na parte do processo judicial de condenação de Tiradentes, ações contraditórias ressaltam o preconceito social imperante na justiça do final do século XVIII, procuram desmoralizar a sua liderança e insistem em considerá-lo ignorante e louco… Como admitir que Tiradentes pudesse se sobrepor a ricos comerciantes, a advogados e mineradores, a funcionários graduados da coroa e mesmo a clérigos eruditos? Contudo, os documentos não conseguem esconder que, a esse preconceito contra o simples Alferes, contrapunha-se a capacidade de liderança que se firmava na sua magnífica coragem, virtude indispensável a um líder. No momento final, o governo de D. Maria I decidiu comutar a pena de todos os condenados à morte, transformando-a em degredo… Menos a de um deles, exatamente aquele que era considerado o homem simples vindo do povo.

Em nível mundial, a Inconfidência Mineira ocorreu quase simultaneamente com a Independência dos Estados Unidos da América e a Revolução Francesa. Todos esses movimentos podem ser contextualizados recuando ao período que marca o crepúsculo da Idade Média e a aurora do Iluminismo. Fase da nossa história em que saíamos das trevas, sombras e terror e passávamos a um novo período, iluminado pela razão e a ciência, e que se esperava fosse um novo Fiat Lux da humanidade. Época a partir da qual a dignidade, característica intrinsecamente humana, e a liberdade, elemento indispensável para a marcha do progresso e a evolução espiritual irreversível de toda a humanidade, eram cada vez mais conquistadas.

Avançando um pouco mais, no período que se estende da segunda metade para o final do século XVIII, eclodiram os três movimentos mencionados, fortemente influenciados pelo pensamento Iluminista. Permeando esses movimentos, encontramos a Declaração da Independência dos Estados Unidos, de 1776, uma clara ressonância da magnífica obra Common Sense (Senso Comum) do pensador e maçom Thomas Paine, que operou uma mudança na mentalidade de muitos homens e estimulou os revolucionários franceses da década seguinte. E impulsionou nossos revolucionários, como hoje podemos constatar da análise dos documentos históricos que confirmam, por exemplo, os propósitos da Missão Vendek, a primeira missão diplomática da nossa Nação, encontro secreto de maçons brasileiros com o também maçom Irmão Thomas Jefferson, um dos próceres da Revolução Americana e então embaixador em Paris.

Por ser esse assunto pouco conhecido e quase nada ainda estudado, esclareço que Vendek era o pseudônimo de um enviado dos revolucionários mineiros que, em 1787, obteve sucesso em estabelecer contato com Thomas Jefferson, ganhando o apoio do líder e recebendo instruções sobre como proceder a fim de obter êxito na revolução republicana e independentista que se propunha para o Brasil. Evidente que, em função da natureza dos elos sociais que ligavam o Brasil e a Europa, essa Missão só foi possível de ocorrer no contexto de uma sociabilização Franco-Maçônica, pautada no espírito e ideais, de livres-pensadores.
Tudo isso nos faz concluir que as ideias iluministas de Paris e Filadélfia (então capital da América inglesa), conforme alguém já comentou, acabaram por chegar ao Brasil, na forma de uma pirâmide ideológica, com os vértices do triângulo postos a Leste, em Paris, a Oeste, na Filadélfia e ao Sul, em Vila Rica. Triângulo que nos remete à nossa familiar tríade: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Liberdade, que conquistamos à custa do sangue e sofrimento dos heróis que hoje homenageamos. Igualdade, que ainda lutamos por conquistar. E fraternidade, que nos une e nos torna mais fortes na luta contra os vícios, os preconceitos e toda forma de opressão.

Triângulo, ainda, representação do delta luminoso que encerra o Olho-Que-Tudo-Vê, a quem devemos corresponder com o eterno combate à mentira e à farsa daqueles que produzem leis e interpretações capciosas, adaptadas aos vis interesses dos poderosos, que perturbam gravemente as relações e laços de fraternidade que devem ligar os homens entre si; “Olho” que nos cobra o combate a toda forma de ignorância, por ser essa a cúmplice mais cega e, por isso mesmo, mais perigosa, daqueles que abusam da boa vontade dos povos; “Olho” que nos cobra o combate ao preconceito e à ambição que, apoiando-se na mentira e ignorância, num espantoso conúbio, contribui ainda hoje para a escravidão do corpo e do espírito, de onde decorre a intolerância religiosa. Meus Irmãos, estejamos, portanto, atentos e vigilantes e façamos a nossa parte. Que o GADU nos ilumine, e que “Olho” não se feche sobre nós.
Muito obrigado!

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ARLS Confidentes de Vila Rica, nº 138 Oriente de Ouro Preto • GLMMG/CMSB

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