Antes de iniciar a leitura desse artigo, querido leitor, gostaria que você respondesse mentalmente às perguntas, que não são retóricas. Responda mesmo: qual o nome do Irmão Cobridor Externo da sua Loja? Você saberia dizer, também, os nomes dos Irmãos da sua Loja que ocupam os cargos de Arquiteto, Mestre de Banquete e de Bibliotecário?

Por motivos que ainda desconheço, a frequência em nossa Loja, praticante do R∴E∴A∴A∴ e federada ao Grande Oriente do Brasil, tem caído muito nos últimos quatro anos. Sei, porém, que a falta de frequência não é um problema exclusivo de minha Respeitável Loja. Maçons de outros Orientes Estaduais também reclamam da ausência dos Irmãos às sessões. A sensação que temos é de uma desmotivação generalizada para comparecer às reuniões semanais. Não temos a pretensão de fazer, nesse breve artigo, a análise minuciosa, nem determinar as causas da evasão dos Irmãos. Cada Loja tem suas particularidades que precisam ser analisadas dentro do contexto em que se inserem e são melhores compreendidas por aqueles que estão mais próximos dos problemas que as afetam. O que não podemos é fazer vista grossa e deixar de procurar as soluções possíveis.

Voltemos, então, nossa atenção às perguntas formuladas no início. Se o atento leitor sentiu dificuldades em respondê-las é porque, em sua Loja, ou os ocupantes dos cargos mencionados não têm comparecido às sessões; ou porque simplesmente os cargos não foram devidamente preenchidos. Infelizmente, essa prática está se tornando rotina no meio maçônico.

COBRIDOR EXTERNO
Mestres Maçons mais experientes dizem que o cargo de Cobridor Externo deve ser ocupado, preferencialmente, por um Venerável que já dirigiu os trabalhos da Oficina. (Atenção! Não existe ex-Venerável. Uma vez instalado, sempre Venerável; mesmo que não ocupe mais a direção da Loja. O correto é denominá-lo Mestre Instalado). Uma das razões para que um Mestre Instalado seja escolhido para Cobridor Externo é a prática da humildade, dizem. Uma vez que tenha ocupado o cargo mais elevado de sua Loja, é um exemplo de humildade aceitar, depois de concluída a sua administração, a função de um Oficial que passa parte da sessão fora do Templo. Outra razão, mais plausível, é o conhecimento e a experiência maçônica do Mestre Instalado, que são condições exigidas para exercer a função de Cobridor Externo, sendo uma delas a certificação da condição de regularidade dos Irmãos visitantes, antes de adentrarem o Templo. Além do telhamento, o Cobridor Externo deve possuir conhecimentos sobre os diversos Ritos praticados no Brasil, bem como saber acerca do Tratado Maçônico de Reconhecimento, Aliança e Amizade entre Potências maçônicas para efeito de intervisitação. Porém, algumas Lojas não preenchem este honrado cargo e fica por isso mesmo, correndo-se o risco de permitir o ingresso na sessão de maçons irregulares, não maçons (os populares goteiras) ou pertencentes a Lojas ou potências espúrias.

ARQUITETO
O Arquiteto é o responsável por tudo que relacione às decorações, ornatos e cerimoniais do Templo. Ele deve preparar o Templo para as sessões da Loja e, após a sessão, guardar todo material utilizado, que ficará sob sua guarda e responsabilidade, além de outras funções que lhes são atribuídas. A Loja que não tem Irmão ocupando o cargo de Arquiteto é obrigada a improvisar e, não raras vezes, a responsabilidade recai sobre o Mestre de Cerimônias que é levado a desempenhar uma função que não lhe compete. O improviso e a demora, para adentrar o Templo terminam refletindo negativamente no ânimo dos Irmãos que aguardam no Átrio e a sessão, antes mesmo de ter início, já está com a harmonia comprometida.

MESTRE DE BANQUETE
O Mestre de Banquete tem como funções principais: promover, sempre que possível, a realização de banquetes fraternais, por ocasião dos solstícios, em junho (24) e em dezembro (27), comemorativos aos Grandes Patronos da Ordem – São João Batista e São João Evangelista; além de providenciar todo o necessário à execução dos banquetes, ritualísticos ou não, de confraternização ou de comemoração de datas magnas da Instituição ou da Loja. Há alguns anos, em nossa Loja, em sistema de rodízio, dois Irmãos eram previamente designados para patrocinarem o banquete semanal, que acontecia após a sessão, dividindo as despesas com comidas e bebidas. Talvez pelo fato de atualmente, nenhum Irmão ocupando o cargo de Mestre de Banquete organizando os ágapes, alguns Irmãos começaram a faltar ao compromisso e outros Irmãos tiveram que assumir as despesas. Com a recorrência, optou-se por banquetes a cada 15 dias, dividindo-se as despesas entre três Irmãos do Quadro. Como temos, nos dias atuais, uma baixa frequência às sessões, cogita-se realizar apenas um banquete mensal, e ter que ver diminuída ainda mais a frequência, que já é mínima, porque o ágape é um bom e saboroso motivo para alguns Irmãos frequentarem a Loja.

BIBLIOTECÁRIO
De todos esses cargos que estão sendo “esquecidos” pelas Lojas, o de Bibliotecário seja, talvez, o que tenha causado menos impacto ou o que menos falta faz aos Irmãos. Em 2010, encaminhei à redação da revista maçônica A Trolha, questionamentos ao Irmão Pedro Juk, então Grande Secretário Adjunto de Ritualística do R.˙.E.˙.A.˙.A.˙. do GOB, sobre as funções do Bibliotecário. Eis, na íntegra, as minhas perguntas e as respostas do renomado pesquisador maçônico:
Irmão Pedro Juk, gostaria que o Irmão me esclarecesse a respeito das funções e/ou atribuições do Bibliotecário. Assumi recentemente esta função em minha Loja e não encontrei nada a respeito, apenas consta no Manual do Aprendiz do R.:E.:A.:A.: do GOB o seu lugar de assento em Loja. Também não há nenhuma alusão no RGF. Quais os antecedentes históricos do cargo de Bibliotecário? Qual a sua importância? Que atribuições podem lhe ser conferidas? Onde posso encontrar bibliografia sobre o assunto?

CONSIDERAÇÕES:
Esse cargo faz parte do grupo de Oficiais do Rito Escocês Antigo e Aceito e o Mestre de Ofício correspondente tem assento na Coluna do Norte próximo e ao lado direito do Irmão Hospitaleiro. Sua função é a de manter o acervo de livros, antigos rituais, registros e documentos arquivados que já passaram pela secretaria da administração anterior, etc. Compete ao Bibliotecário fornecer livros e documentos para pesquisa, registrando os seus destinos e cobrar a devolução para o patrimônio da Loja, ser o responsável pela guarda de documentos históricos que interessem a Loja, ou mesmo da sua fundação, receber e catalogar obras literárias para a biblioteca da Loja, etc.Quanto a sua origem, esse cargo não é unanimidade em todos os ritos ou trabalhos, entretanto não o faz menos importante que os outros e, provavelmente, teve a sua origem na França por volta do século XVIII.Talvez uma bibliografia que possa ajudá-lo é o livro Cargos em Loja do saudoso Irmão Xico Trolha – Editora Maçônica A Trolha – Londrina, Paraná – www.atrolha.com.br T.F.A.PEDRO JUK

Por conta própria, acrescentaria à lista do Irmão Pedro Juk, mais algumas atribuições ao Bibliotecário: incentivar a leitura, o estudo e a pesquisa maçônicas. Como no mundo profano a falta de interesse pela leitura é regra, na Maçonaria não seria diferente. Se, antes de ingressar na Maçonaria, o profano não era, habituado à leitura, a Iniciação não o transformará num ávido leitor, como num passe de mágica. Leitura é hábito. O bom desse hábito salutar é que pode ser adquirido a qualquer tempo, bastando para isso o esforço próprio, determinação e persistência.

Em Maçonaria, tudo foi pensado para que a sessão transcorra Justa e Perfeita. Nossos Rituais nos garantem o resultado que se espera, se o seguirmos corretamente. Quando damos chance ao improviso, ao descaso, à ignorância e aos erros a Loja e os Obreiros sofrem as consequências. Uma sessão realizada dentro dos ditames ritualísticos e de acordo com as nossas leis, nos proporciona bem-estar, alegria e motivação renovada para estar presente na semana seguinte. A lição é simples e repetida à exaustão pelos Mestres mais comprometidos com a Ordem: “basta seguir o Ritual!”

Levantemos Templos às Virtudes do conhecimento e da Sabedoria, adquiridos no estudo, na convivência fraterna, na solidariedade traduzida em ajuda aos Irmãos necessitados. Cavemos masmorras aos vícios da indolência, do descompromisso, do perjúrio, do personalismo, do orgulho e da traiçoeira vaidade. Trabalhemos meus Irmãos, sem descanso, porque a obra ainda está muito distante, no tempo, de ser concluída. Cuidemos de nossa Loja com amor e dedicação.

Agindo assim, teremos a certeza de pertencer a uma Loja de São João Justa e Perfeita.

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ARLS Caridade II nº 0135 GOB/PI Oriente de Teresina

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