Ensina o romancista Dostoiévski que há um “segredo da existência humana”. Mas não escrevo muitas páginas sobre o assunto. Nem reivindica direitos a, posteriormente, lavrar um tratado, o que, decerto, teria de ser excedente para fazê-lo. Preferiu sintetizar na clausura de algumas palavras. Para ele “o segredo consiste não no propriamente viver, senão sobretudo no estabelecimento de um motivo para viver”.

Neste particular, há uma semelhança do que se contém em seu decreto com os ensinamentos do filósofo Sêneca, segundo quem “não haverá vento favorável ao marujo que não sabe a que porto se dirige”. Informabim 563-3 No fim do século passado, cantou-se, e até com frequência, quem sabe faz a hora”. Sim, quem sabe faz. Mas a convocação não deverá ser apenas para os que já sabem. Quem não souber, é para ser ensinado e deverá aprender. Pois a vida é ação, cabendo a cada um, conforme o seu pendor, a escolha do caminho a seguir. O que não é lícito é a inércia, tampouco a inadvertência aos que a ela se entreguem.

Tinha razão de sobra o sapiente dramaturgo espanhol – Calderón de La Barca, quando chamava a atenção de seus contemporâneos para a circunstância de que “a vida é uma oficina de sonhos”. E é isto mesmo. Entristeço-me com os que não têm sonhos, porque, ao que entendo, não terão amanhã. Perderam o sentido da beleza do viver!

Fernando Pessoa, admirável poeta lusitano, mais das vezes abdicou da leveza dos versos, para fazê-los condutores das durezas da verdade, e, provavelmente por isto, tenha chegado com merecido apreço ao podium da estesia poética universal.

Os mares de seu lirismo, ao que contou, estariam prenhes de sal de lágrimas das viúvas e dos órfãos de Portugal. É que os lusitanos tinham sonhos. Ideais que se sobrepunham à vida: tornar a civilização um bem de todos.

O vate português foi enfático nisto. Seu é o pensamento que chega aos dias de hoje: “A pessoa dá à vida a dimensão de seus sonhos”. A opção pelo bem. A dedicação ao próximo. O destemor aos desafios. O estabelecimento de metas da felicidade. O arrojo na consecução dos meios. O respeito e a contribuição ao aperfeiçoamento dos costumes. São matérias que povoam os sonhos impulsionados pela determinação empreendedora, tornar-se-ão realidade.

Há os que temem o fosso entre o sonho e a realidade, adverte Aldous Huxley em seu livro “O Gênio e a Deusa”. Como existem os que se intimidam com os desafios da senda estreita e pedregosa. E alguns até recuam, aceitando ser apenas espectros de homens que passaram pela vida e não viveram”, nesta definição do poeta fluminense Manoel Otaviano.

Posição contrária marcou o autor de Oração aos Moços, ao registrar que esses sentimentos são próprios dos que se limitam ao estômago. A vida, porém, transcende disto. Tem a ver com o espírito que se alimenta dos ideais/sonhos e não finda, como o corpo. O espírito volta a Deus, em caminhada garantida nas passagens de Eclesiastes (12, 7).

Disse-me um Venerável Mestre que há um momento especial em que sua vida se enche de alegria. E não têm sido poucos esses momentos. Pois faz mais de três décadas que eles se repetem. Reportava-se ao momento em que o “iniciado” diz que jura amar a Deus e promete tudo fazer a seu alcance pelo próximo, pela Pátria e pela família. Homens e sonhos.

Lindos sonhos, dos quais a Maçonaria a cada instante se reinventa. Podem até ser velhos temas”. E o são, é bem verdade. Mas não importa a distância temporal de onde eles vêm. O que importa mesmo é que eles, sendo “motivo para o viver” feliz, tenham sido restabelecidos e sejam sempre atuais em cada geração.

– Grão-Mestre do Grande Oriente Maçônico do Distrito Federal – GOMDF

Ir∴ Antônio do Carmo Ferreira

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