Desde quando eu era criança, tenho ouvido falar muito em “segredo do maçom”, tenho ouvido falar que a “Maçonaria é uma sociedade secreta” e em coisas parecidas, quando não até nas mais absurdas histórias dignas de cérebros doentios. Até hoje – estou com mais de oitenta anos – de vez em quando ouço as mais estapafúrdias histórias, possivelmente inventadas por pessoas interessadas em explorar crendices.

Não entrei para a Maçonaria a fim de tomar conhecimento do tão falado segredo; mas, sendo maçom, não podia deixar de saber o que realmente acontece. Agora, resolvi dar publicidade, sem receio de perjúrio ou reprovação. Vou devagar, para facilitar a compreensão. Suponhamos um grupo de jovens que, conversando entre eles, um comenta certo problema social existente na sua cidade. Todos concordam com a existência do problema, que é sério e que deve ser resolvido para o bem de toda a gente. Modesta conversa entre idealistas que facilmente se entusiasmam e mantêm este diálogo:
– Vamos resolver isso!
– Como?
– Não sei, mas vamos resolver. Cada um de nós vai estudar uma solução…
– Os pessimistas vão atrapalhar!
– POR ENQUANTO FICA SÓ ENTRE NÓS…
Passados uns dias, ao se encontrarem como de costume, aqueles rapazes entraram logo no assunto, porque cada um estava realmente interessado na solução do mencionado sério problema social: especificaram encargos para colher sugestões, encarregam-se todos de conversar com os homens bons do lugar, sem pensar ou deixar transparecer que já estavam em campanha. Falaram com outros amigos, com ricos e pobres, com professores, com crianças e idosos, provocaram o interesse de jornalistas, radialistas, políticos…e tiveram o prazer de constatar que uma comissão oficial cuidou do caso e resolveu o sério problema de maneira que inicialmente parecia ser a solução impossível. Colaboraram até pessoas que não pensavam no bem geral, mas se aproveitaram da onda para se salientar na sociedade.

Aí está uma história hipotética, de certo modo tirada de um fato real, que passo a relatar.
No presente século vinte, no começo da década de vinte, presenciei na cidade de Bauru, aqui no Estado de São Paulo, o triste espetáculo de doentes morféticos, com rosto em chaga, montados em pobres cavalos, virem bater em cada casa, pedindo esmola para manutenção própria ou de seus miseráveis familiares. Lembro-me de que, então, andaram falando em construir um leprosário; a ideia cresceu.

Houve contribuição dos comerciantes, houve quermesse beneficente, colaboração de religiosos e o povo em geral, inclusive de pessoas que por ignorância combatiam a Maçonaria. Um pouco afastado da cidade, foi afinal construído o tal leprosário e ali foram recolhidos e assistidos os pobres doentes. Isso foi feito em um lugar chamado Aimoré, onde havia, se não me engano uma estaçãozinha da Companhia Paulista de Estrada de Ferro. Anos depois dessa inauguração, meu pai, Gamaliel Almeida, grau 30, me contou que os maçons é que haviam lançado essa ideia e iniciado a campanha para aquele lazareto.

Isso aconteceu na realidade como sucedeu hipoteticamente no primeiro caso, descrito no início, da crônica. A Maçonaria é uma sociedade como qualquer outra que seja bem organizada e vise o bem social. Por isso mesmo, a Maçonaria cultiva a fraternidade seriamente e entre os seus membros se chamam de irmãos. Tal como se viu acima, no suposto caso dos jovens idealistas e no caso real do lazareto de Bauru, quando há um sério problema social, em todos os lugares e não só na Maçonaria, não faltam comentários, acusações, ironias, discussões sérias ou extravagantes. Cientes de sua responsabilidade perante a sociedade, os maçons – como todo bom cidadão – também tomam conhecimento e se preocupam com os problemas sociais; apenas não se manifestam publicamente antes de encontrar solução viável. E porque estão sempre orientados pelos sentimentos de fraternidade e harmonia, suas campanhas são geralmente e constantemente dirigidas a dar assistência moral e financeira, não só às suas instituições, mas igualmente a instituições não maçônicas de reconhecida seriedade. Sejam maçons ou não, dois ou mais seres humanos conversam entre si sobre os mais variados assuntos, sem necessidade de alarde e sem que isso seja segredo, embora às vezes pareça.

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