Indiscutivelmente, o progresso e evolução dos meios de comunicação digital em massa – dentre eles, redes sociais e aplicativos variados – têm produzido enorme ganho de tempo, sentimento de estreitamento das relações e uma satisfatória sensação de redução das distâncias físicas, preenchendo uma lacuna sentimental deixada pela saudade e vontade de ampliar e aprofundar suas amizades e relacionamentos.

Neste contexto, essas tecnologias são inigualáveis e maravilhosas, já que se torna possível experimentar – mesmo à distância – os sentimentos de carinho, afeto, compaixão e, principalmente, gerar a sensação de globalização.Dentre estas tecnologias, como se sabe, destaca-se, como mecanismo de comunicação digital, o aplicativo Whatsapp, o qual promoveu uma revolução sensitiva inimaginável, bem como a facilidade e agilidade fantástica das formas de se contatar, trocar informações e manter relacionamento com outras pessoas.

Por ele é possível, aos usuários, enviar simples mensagens de textos, imagens, sons, vídeos, gifs, emojis, com os mais variados conteúdos e significações, sendo que nos acostumamos, inclusive, a interpretar pequenos símbolos como representação de uma ideia, expressão ou frase. Aliás, conhecemos bem isso, na Maçonaria.

Contudo, e como sempre, não há nada de tão bom que não possa, em excesso ou sendo utilizado de forma indevida, gerar efeitos colaterais desagradáveis e, algumas vezes, irreversíveis. Contemporâneo ao advento e evolução do Whatsapp, como mecanismo de comunicação digital em massa, acredito que todos tenham notado o aumento substancial das desavenças, discórdias, animosidades, discussões acaloradas, infrutíferas e inócuas e, por vezes, destruição de relacionamentos e amizades pela total falta de sensibilidade e de capacidade de entender, compreender e aceitar a manifestação de ideias do interlocutor.

Na verdade, o que ocorre é que estas tecnologias de comunicação digital, principalmente o Whatsapp, vêm gerando uma falsa sensação de intimidade e proximidade humana, a quebra da personificação da pessoa, a minimização dos sentimentos do próximo, a supervalorização de suas próprias ideias, concepções e pré-conceitos, o estímulo à individualidade em sobreposição ao interesse coletivo, dentre outros sentimentos e reações que, maçonicamente, deveriam ser expurgados.

Por incrível que possa parecer, é possível se constatar nos grupos, dos mais variados conteúdos e objetivos em que participam maçons, que simples diálogos e exposições de ideias, de repente, se tornam discussões fervorosas de contrapontos, um verdadeiro turbilhão de emoções, fazendo com que os interlocutores passem a se agredir mutuamente, de forma verbal, gerando total desarmonia e, muitas das vezes, causando a exclusão de um ou de outro.

Sem contar as inúmeras autoexclusões, por Irmãos que se sentiram ofendidos com a situação e/ou palavras proferidas ou não concordam com a forma da exposição do diálogo ou não querem, simplesmente, perder seu tempo num grupo em que se debatem coisas supérfluas, inúteis ou onde a falta de tolerância impera.
Irmãos esquecem de todo o aprendizado maçônico que adquiriram, de todos nossos princípios e postulados, e passam a se digladiar digitalmente, com ofensas mútuas, ataques verbais sem propósito, acusações desmedidas e desnecessárias, esquecendo-se do direito sagrado e natural do livre arbítrio e da liberdade de expressão, desde que com responsabilidade.

Porém, o mais grave de tudo é perceber que os Maçons não conseguem compreender a necessidade e a complexidade do processo de comunicação humana e nem da compulsória aplicabilidade dos princípios da tolerância e paciência em seus diálogos virtuais, além do juramento de amor fraternal que nos unem o que agrava, enormemente, as situações ocorridas.

A comunicação humana não é um simples mecanismo de diálogo escrito, reduzido a palavras escritas e postagens frias de emojis. Muito pelo contrário, é um processo complexo, que envolve verdadeiramente todos os sentidos, e percepções que possuímos, super estimulando nossas sensações e capacidades de interpretação mental. Este processo não é formado tão somente pela fala, audição, visão, de maneira simplista. É mais profundo que isso, em todos os sentidos, já que a tonalidade e o timbre da voz, os gestos, posições, o olhar, a expressão da face, os movimentos involuntários dos músculos, as demonstrações de ansiedade e nervosismo, dentre outras reações somam-se ao conjunto e formam o processo de comunicação humana, traduzindo as entrelinhas do diálogo e criando a sensibilidade e pessoalidade necessárias para correta interpretação da situação envolvida.

Porém, infelizmente, as pessoas, nutridas pelo desejo e estímulo de uma comunicação impessoal e “fast food”, esquecem-se que as tecnologias da comunicação digital, sejam elas quais forem, não conseguem expor todas as facetas do processo de comunicação humana, falhando, muitas vezes, na tradução dos sentimentos envolvidos ou das reais situações ocorridas.

Á exemplo do Whatsapp, que é muito utilizado entre os Maçons como meio de comunicação digital, se é usado, basicamente, a escrita fria e anêmica, além do envio de imagens, sons, vídeos, sem a demonstração clara dos demais componentes fisio-sensitivos que deviam acompanhar a mensagem postada.

Neste sentir, uma única frase – mal escrita, mal interpretada ou mal colocada – pode causar uma celeuma desnecessária, bem como um vídeo, som ou imagem, sem apresentação completa do conjunto de relações e sentimentos envolvidos, pode causar repulsa, rejeição, comoção e incitar a um discurso de ódio desnecessário e desarrazoado.

Os interlocutores, no mais das vezes, não são capazes de interpretar corretamente a comunicação mantida, já que lhes falta o conjunto fisio-sensitivo que preenche as lacunas do processo de comunicação, o que vem a gerar discussões absurdas e sem sentido, sentimentos negativos, chegando ao extremo do ódio e rejeição do Irmão.

Nenhuma das tecnologias de comunicação digital pode ou deveriam ser utilizadas para substituir a comunicação humana presencial, pessoal, física e íntima, pois nada substitui as sensações experimentadas por um diálogo direto, sincero e franco, aquele a que chamamos “olho no olho”!

O uso das tecnologias de comunicação digital, em diversas oportunidades, retira a sensibilidade e o senso de personificação e abaixam, incrivelmente, nosso sentido de humanização e nosso senso crítico, pois entendemos que nosso interlocutor, por estar longe fisicamente e saber que ele não poderá reagir de forma expressiva e tempestiva, ficará limitado em suas contraposições e atitudes.

Os interlocutores se ocultam pelas interfaces das tecnologias de comunicação digital, de forma com que o fato de não poder ver e sentir o que o outro está passando lhe retira seu sentimento de culpa, pois basta falar o que quer e, simplesmente, sair de um grupo, encerrar abruptamente o diálogo ou excluir a pessoa do convívio. Ou seja, é mais fácil abandonar a discussão inacabada, demonstrando que sua opinião e vontade devem sempre prevalecer, do que chegar, juntos, num consenso fraternal, com pedido de desculpas mútuas, evoluindo espiritual e maçonicamente.

As tecnologias de comunicação digital, principalmente o Whatsapp, não podem ser utilizadas indiscriminadamente, principalmente pelos Maçons, já que os laços de Fraternidade que deveriam nos unir e nossos votos de amor incondicional exigem – inclusive como norma básica de convivência – que nossas contradições e ideias divergentes, nossas desavenças, sejam resolvidas de forma pessoal, presencial, física, em um diálogo aberto, franco e sincero.

O Whatsapp, portanto, deveria ser utilizado tão somente como catalisador de transferência de informações – sejam elas úteis e necessárias ou não, mas claro que de preferência as primeiras – não como mecanismo de solução de conflitos ou de debate de ideias polêmicas!

Não há como se garantir que os interlocutores usuários do Whatsapp terão a maturidade, paciência e tolerância necessárias para aceitar ideais contrárias e ser refutado, ostensivamente, em suas falas e posicionamentos, de forma com que um mero diálogo irá, muito rapidamente, se transformar numa discussão improdutiva, agressiva, nutrida por sentimentos vis, podendo ser extremada pelo ódio e a cisão.
Assuntos polêmicos e ideias divergentes e paradoxais entre Irmãos deveriam – aliás, devem – ser debatidas pessoalmente, através da utilização de todo o processo de comunicação humana, seguindo os preceitos da Ordem, com finalidade progressista e evolutiva, tendo como limite o amor incondicional e o respeito fraterno ao outro.

Mas, não sendo possível a comunicação pessoal presencial, onde se possa aproveitar de todo o processo de comunicação humana, que, no mínimo, deixe a mera letra fria dos grupos de Whatsapp de lado, já que por ela não é fácil e nem simples demonstrar seus sentimentos e intenções.

Assuma postura de um verdadeiro iniciado e busque utilizar-se do mecanismo da fala, mesmo que através de uma simples ligação, já que este mecanismo de diálogo é o caminho mais próximo do coração, sendo possível, ao Irmão interlocutor, acercar-se da real sensação de paz e fraternidade que se espargem pelas vibrações e sentimentos que a voz pode traduzir.

Lembre-se, não somos pessoas comuns, não somos pessoas quaisquer, fizemos um juramento inquebrantável e eterno de amarmos e reconhecermos, uns aos outros, como Irmãos! Escolhemos isso! Então há que se esforçar e se policiar, diuturnamente, para que impere e reine a harmonia, a paz e a concórdia, respeitando, sempre, a dualidade e as diferenças.

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AELS Obreiros da Paz, n° 19 Oriente de Bujari • GLEAC/CMSB

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