Quando venerável me pediu para montar uma prancha de arquitetura sobre o tema livre e de bons costumes me senti um pouco apreensivo, pois é um termo muito pouco estudado e muito pouca coisa foi escrita sobre isto na literatura maçônica, desta forma tentarei apresentar minhas próprias impressões sobre o tema tomando por base de estudo nossos rituais, nossos Landmarks e nossas Leis repressivas impressas pela GLMMG e entregues a todos nós no dia de nossa iniciação.

Dito isso precisamos inicialmente, contextualizarmos a época de formação de nossa instituição nos anos de 1717. A sociedade europeia havia saído a pouco da idade das trevas ou idade média (476 D.C. queda do império romano até o início da era moderna em torno de 1500 D.C.) desta forma estava sendo criada a maçonaria no ápice da idade moderna, que apresenta à humanidade um período de renascimento das artes, viagens intercontinentais com a colonização das Américas, e, na Europa, apresenta o fim de diversos sistemas de escravagistas, vigentes durante boa parte do período medieval, desta forma é fácil entender sob a ótica dos fundadores da ordem e criadores das primeiras constituições a necessidade da obrigatoriedade dos membros desta nova ordem não serem escravos, serem livres para tomar suas próprias decisões sobre sua vida e terem liberdade de ir e vir sobre a face da terra, pois a ordem recém-criada precisava de formadores de opinião; e pessoas sem liberdade de expressão e de mobilidade para divulgar as ideias maçônicas não eram interessantes para a confraria, se pensarmos ainda na maçonaria operativa, lembraremos que os artesão membros das lojas antigas tinham de ser livres para prestar serviços, aonde quer que suas habilidades fossem necessárias.

Segundo Charles Alexis Henri Clérel de Tocqueville, cientista político, historiador e político francês (1805-1859) em seu livro Essai sur lês Libertés, (Ensaio sobre as Liberdades) de 1836 diz: De acordo com a noção moderna democrática, e, ouso dizê-lo, a noção justa da liberdade, cada homem presumindo ter recebido da natureza as luzes necessárias para se conduzir, traz do nascimento um direito igual e imprescritível de viver independentemente de seus semelhantes em tudo aquilo que não tem relação senão com ele mesmo e a regular, como ele o entenda, o seu próprio destino.

Assim definida, a liberdade é um tempo, negativa e indeterminada; negativa, no sentido de que ela tem por expressão a independência, a escolha por cada qual de seu destino; indeterminada, no sentido de que resta saber até onde vai aquilo que para cada um não tem relação senão consigo próprio.

Quando pensamos sobre o tema dos bons costumes esbarramos no estilo de vida extremamente extravagante por parte dos europeus do século XVIII. Eram muito comuns o alcoolismo, a vadiagem e todo o tipo de desvio de conduta por parte dos cidadãos europeus comuns como o adultério, o roubo, assassinato, maus tratos a esposas e filhos, etc… desta forma exigências que parecem para nós hoje banais como não roubar, ter uma vida familiar estável, trabalhar para ter uma vida digna e manter uma família sustentada de maneira adequada, eram grandes separadores de pessoas que desejavam entrar na nossa ordem.

Desta forma estes preceitos foram implementados em nossos usos e costumes pelo Poderoso irmão Albert G. Mackey nos vinte e cinco Landmarks onde no 18º está escrito, ”Por este Landmark, os candidatos a iniciação devem ser isentos de defeitos e mutilações, livres de nascimento e maiores. Uma mulher, um aleijado ou escravo não pode ingressar na fraternidade.”

Com relação aos bons costumes o Reverendo James Anderson escreveu em sua constituição de 1723, no parágrafo 5º “Regras de conduta em casa e na vizinhança: Os maçons devem conduzir-se como convém a um homem prudente e de boa moral, não se ocupar de assuntos da loja com a sua família, com os amigos, e não perder de vista em nenhum caso, que o mérito próprio e da confraria estão unidos; não se deve descuidar dos próprios interesses, permanecendo ausente de sua casa depois das horas da loja, deve evitar igualmente a embriaguez e os maus costumes para que não se vejam abandonadas as próprias famílias, nem privadas daquilo a que tem direito de esperar dos maçons, e para que estes não se vejam impossibilitados para o trabalho.” Ainda na constituição de Anderson existe outra passagem interessante no 3º parágrafo – Regras de conduta quando os irmãos se encontrem fora de loja, sem presença de profanos: Devem saudar-se animosamente, e, conforme está disposto dar-se o nome de IIr∴, comunicar-se reciprocamente as notícias que possam lhes ser úteis, tendo cuidado de não serem observados nem ouvidos; devem evitar toda a pretensão de elevar-se sobre os demais, e dar a cada um a manifestação de respeito que se outorgaria a qualquer um, mesmo que não fosse maçom, porque ainda quando todos os maçons na qualidade de IIr∴ estejam na mesma altura, a maçonaria não despoja ninguém das honras de que gozava antes de ser maçom, até pelo contrário, aumenta estas honrarias, principalmente quando forem merecidas, pelo bem da confraria, que deve honrar aqueles que merecem e condenar os maus costumes.”

Como o venerável solicitou quando da realização desta prancha de arquitetura que esta servisse para uma auto avaliação sobre o fato de nós, membros de nossas lojas, sermos livres e de bons costumes, acho por bem citar também dos delitos previstos nas leis repressivas da GLMMG pagina 3, Art. 7, 8 e 9 (ler em loja).

Para concluir este pequeno trabalho gostaria de deixar para os irmãos a mensagem de que todos nós somos homens livres e de bons costumes, mas tanto a liberdade quanto os bons costumes precisam ser cuidados preservados diuturnamente por todos, pois muitas são as tentações cotidianas que podem nos levar a deixar de ser um homem de bons costumes, a prática dos bons costumes e a preocupação com esta prática é que o que realmente separa um bom homem de um dissimulado ou hipócrita, a preocupação com nossa moral, nossos bons costumes tem de ser uma prática constante na vida de todos, mas especialmente na vida do maçom. Com relação à liberdade, é evidente que nenhum homem em sã consciência busque a escravidão ou a perca de sua liberdade, mas ela pode surgir sejam através de vícios, nas escolhas de políticos, sistemas de governo e dirigentes diversos em nossa sociedade, seja através da passividade ou aceitação de limites em nossos direitos de ir e vir, de pensar ou de agir, seja através dos governos ou de instituições religiosas.

Acredito que pelo fato de nossa geração não ter tido a necessidade de lutar por liberdade ela não tem dado o real valor a esse direito inalienável de todo ser humano, a liberdade é de tamanha importância para nós maçons que está na tríade da máxima maçônica, Liberdade, Igualdade e fraternidade. Obrigado a todos pela atenção e que possamos continuar sendo maçons livres e de bons costumes.

About The Author

ARLS União e Paz, nº 261 Oriente de Itabira • GLMMG/CMSB

Leave a Reply

Your email address will not be published.