os olhos de muitos, ser um homem livre é a mesma coisa que ser um homem dotado de livre arbítrio. À primeira vista pode até parecer um excesso de preciosismo debruçar-se sobre esta questão, mas a meu ver acredito que aqui existe um ponto interessante para discussão e gostaria de ouvir a opinião dos demais irmãos de nossa Ordem. Para mim são situações distintas. Uma das mais importantes e imperiosas qualidades que são exigidas ao candidato ao entrar na Ordem e para que nela permaneça é que o mesmo seja um homem livre e de bons costumes. E o que seria ser um homem livre? Qual a definição que se aplica às qualidades necessárias ao homem, para que ele seja considerado um homem livre? Ser livre, no sentido mais estrito da palavra, significaria apenas ser um homem cujas garantias de liberdade ainda lhe são permitidas, excluindo-se portanto àqueles que não dispõem desta condição? Como indivíduos presos ou mesmo aqueles na condição de escravos? Até acho que em algum momento isto foi importante, no passado, mas com a evolução da Ordem, ser Homem Livre ganhou outros contornos de significado muito mais profundos e importantes. Ser livre então, no sentido mais amplo, seria aquele homem que não está limitado por suas crenças religiosas ou pelo fanatismo ou mesmo pela ignorância e por toda a escuridão que estas condições impõem ao espírito daquele que deseja evoluir? Muitos dirão que sim, que estas condições são necessárias ao maçom para que o mesmo seja considerado livre. Ou ser livre não seria, utilizando de um jargão mais afeito à nossa Ordem, aquele homem que conseguiu combater suas paixões, submeter sua vontade, cavando masmorras aos vícios e elevando templos à virtude, executando diuturnamente a tarefa solitária de desbastar sua pedra bruta, ficando assim livre das mazelas dos vícios? Muitos dirão que sim, que estas condições são necessárias ao maçom para que o mesmo seja considerado livre. Os diversos significados filosóficos que possam ser atribuídos à condição de ser um homem livre podem ser muitos e diversificados, como os assinalados acima e além de outros e isto é muito bom e salutar. A questão é: Quais os usos que estão se fazendo destes significados? O problema que decorre daí é que, na minha opinião, a Ordem vem padecendo de um mal que decorre principalmente da má interpretação destes significados. O remédio tanto propalado como sendo o elixir da vida eterna está acabando por levar à extinção o paciente. Já chegarei ao ponto. Mas e o Livre Arbítrio? Seria situação sinônima à de homem livre? Livre para decidir? Eu acho que não. Eu acredito que são situações distintas e portanto não sinônimas e não intercambiáveis. E o declínio histórico, tanto numérico, quanto cultural e de conhecimentos filosóficos, esotéricos, cabalísticos, herméticos e etc que vem padecendo nossa ordem nos últimos anos, a meu ver, decorre da errônea interpretação de que ser um Homem Livre é sinônimo de ter Livre Arbítrio. Então se Livre Arbítrio não é igual a ser Homem Livre o que é Livre Arbítrio ? Em meu ponto de vista quem atrapalha e confunde estas duas situações é a palavra Arbítrio. Arbítrio deriva de arbitrar, ou seja, decidir, julgar, escolher. Como estes verbos são ações desejáveis a um Homem Livre à medida que o mesmo seja capaz de decidir, julgar e escolher por sua própria vontade, muitos irmãos sem se aperceberem acabaram por considerar as duas situações sinônimas. Elas até podem ser sinônimas mas não antes de analisarmos um aspecto fundamental, o Conhecimento, a Informação. Para que o Homem decida ou julgue apropriadamente, com justiça e perfeição, é necessário que o mesmo disponha de todas as informações e todo o conhecimento disponível para que frente ao seu julgamento ele o decida por esta ou aquela tomada de decisão, usando assim sua condição de, em posse de todos os fatos e de todo o conhecimento disponível, livre arbítrio. E se o Homem não dispor de todas as informações ou de todo o conhecimento ? Poderá ele escolher livremente? Não estaria ele, nesta situação, refém da ignorância e escolhendo segundo seu “Livre Arbítrio”, mas sem ser um Homem Livre do obscurantismo que a falta de instrução e a ignorância carregam? Pois é exatamente isto que está ocorrendo com a Ordem Maçônica. Muitos irmãos a pretexto de exercerem sua condição de Homens Livres e utilizando a errônea igualdade entre estas situações propagam que todos somos Livres e dispomos de Livre arbítrio para escolher o caminho que quisermos. Mas como escolher o caminho que quisermos, usando de Livre arbítrio se não conhecemos nenhum caminho? Se não dispomos de todas as informações? Com o pretexto de que a evolução é individual, muitos irmãos optam por escolher o caminho que mais lhe apraz, sem se preocuparem com todos os aspectos de devem reger a evolução do Ser como um todo. Assim cada um puxa para um lado, distanciando-se dos demais e enfraquecendo a união. Na antiguidade o Aprendiz permanecia 7 anos em estudos, era iniciado não apenas nos significados esotéricos dos símbolos, como também estudava vários ramos do saber como a gramática, a aritmética e etc. Ou seja, o neófito era instruído e munido de vários campos do conhecimento, com o intuito de uniformizar o aprendizado em todos os aspectos da evolução. Com o passar do tempo isto se perdeu. Nas lojas o comprometimento com o estudo ficou relegado à avaliação do próprio maçom, diminuindo paulatinamente o comprometimento com o conhecimento e com a evolução. Esvaziando o discurso e restringindo-se assim às instruções contidas nos rituais e até mesmo estas, sem a devida análise e discussão entre os irmãos. Geralmente ouço que a Maçonaria é uma Escola de Líderes, uma Escola de Filosofia, mas em meu ponto de vista como escola que é, ela carece de um plano pedagógico, de um currículo mínimo, de um esqueleto que seja comum a todos os irmãos; como uma árvore jovem com poucos galhos poucas folhas e raízes não profundas, mas que servem de base para que o próprio maçom com base nestes conhecimentos vá paulatinamente acrescentando raízes, folhas, frutos e novas ramificações segundo seu livre arbítrio. Será que estamos utilizando nosso Livre Arbítrio da melhor maneira possível? Se estivéssemos, a Maçonaria não estaria tão decadente como sinto e vejo que ela está. A errônea interpretação do Livre Arbítrio ao longo dos anos produziu um conglomerado de irmãos que nada possuem de homogêneo, de currículo comum, de conhecimento mínimo e portanto de ações e comportamentos que possam caracterizá-los como uma irmandade. Decorar o ritual não torna um irmão maçom. Os irmãos mais experientes na Ordem dirão que como aprendiz que sou, ávido por conhecimento, estou querendo antecipar as coisas e que nos graus mais altos terei a oportunidade de estudar tudo isso. Os irmãos mais esotéricos na Ordem dirão que às portas do segundo grau, estou sentindo os efeitos da dualidade e ambiguidade que carrega o número 2, número associado ao grau de companheiro. Os irmãos menos pragmáticos e mais ortodoxos dirão que estou, segundo Nietzsche, agindo à mercê de forças reativas, querendo impor limites ao livre pensamento maçônico. Os irmãos menos comprometidos que se limitam a comparecer em loja e em nada contribuem para o aperfeiçoamento comum não dirão nada. Outros irmãos comprometidos com aperfeiçoamento mútuo, engajados no espírito de união dirão muitas palavras, alguns contra outros a favor de meus argumentos, mas que certamente contribuirão para nosso engrandecimento intelectual. Não quero aqui parecer uma voz dissonante, apenas levanto se esta questão do livre arbítrio não está contribuindo para a queda cada vez maior do número de adeptos de nossa ordem. Fica aqui minha sugestão de criarmos um currículo mínimo comum de conhecimento nas mais diversas áreas do saber para que assim possamos lapidar nosso intelecto e assim munir nosso espírito para que o mesmo possa tomar livremente a escolha que arbitrar adequada à sua evolução moral, intelectual e espiritual. Leave a ReplyYour email address will not be published.CommentName* Email* Website Salvar meus dados neste navegador para a próxima vez que eu comentar. Δ